Lindos, ricos, poderosos: quem resiste a acompanhar a vida (inclusive íntima) deste casal?| Foto: Lucas Jackson/Reuters

O leitor da Gazeta do Povo já deve ter percebido que a vida privada das celebridades não costuma pautar nossas reportagens. E não será hoje, em que a recente separação de Brad Pitt e Angelina Jolie ainda mobiliza a cobertura da mídia internacional, que vamos começar a esmiuçar esse tipo de assunto. O que abordaremos, e pedimos desculpas a quem veio até aqui em busca dessas novidades, é por que essas notícias nos afetam.

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Primeiro, uma necessária contextualização. O casal permaneceu junto por 12 anos e tem seis filhos. O fim da era ‘Brangelina’, anunciado na manhã de terça-feira, foi uma avassaladora onda midiática. Muitos confessaram sua tristeza e uma “desilusão com o amor”, já que a união parecia ser a mais significativa em Hollywood. Outros reforçaram que era evidente que o relacionamento jamais vingaria. Os mais criativos, não importa de que lado estivessem, expressaram seu posicionamento por meio de uma profusão de memes.

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“A partir da segunda metade do século 20, as pessoas começaram a falar sobre intimidades que eram preservadas até então. O cinema e, mais tarde, a televisão, passaram a vender os atores junto com os filmes e programas”

Neuzi Barbariniprofessora de Psicologia Social da PUC-PR

Houve também os que se sentiram vingados. Explica-se: Angelina teria sido o motivo do primeiro divórcio de Pitt. Jennifer Aniston, a ex, virou o principal ‘rosto’ dos memes. O jornal New York Post usou em sua capa uma foto da atriz, às gargalhadas, para fazer deboche de um acontecimento que, normalmente, seria tratado de maneira íntima.

Em “Vida: O Filme”, livro lançado em 1998, o jornalista e historiador Neal Gabler já apontava o que ficou ainda mais claro com redes sociais e a explosão de reality shows como “Big Brother” a partir da década seguinte: a vida, por si só, virou uma mídia tão completa quanto televisão, rádio e cinema. “Todos nós nos tornamos artistas em um programa mais complexo e instigante do que qualquer coisa imaginada para uma mídia convencional”, diz trecho. Algo como o argumento que Andrew Niccol escreveu para “O Show de Truman”, filme que também estreou em 1998.

Plateia

Jovem, rico, lindo e morto

As regras de Richard Stolley, que fundou a revista People, para uma capa de sucesso: “Jovem é melhor que velho; bonito é melhor que feio; rico é melhor que pobre, TV é melhor que música, música é melhor que cinema, cinema é melhor que esporte, qualquer coisa é melhor que política e nada é melhor do que uma celebridade que acaba de morrer”.

Como plateia de um relacionamento tão público, somos encorajados a tomar partido, em um fenômeno comportamental que não é novo, mas ganha contornos ainda mais intensos com a força das redes sociais. “A partir da segunda metade do século 20, as pessoas começaram a falar sobre intimidades que eram preservadas até então. O cinema e, mais tarde, a televisão, passaram a vender os atores junto com os filmes e programas”, analisa Neuzi Barbarini, professora de Psicologia Social da PUC-PR.

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Brangelina, portanto, é mais rentável por quebrar esse limite de vida pública e privada do que por qualquer grande filme em que suas partes possam atuar.

A aparência irretocável do ex-casal também conta na manutenção do interesse por esse ‘programa’. Em “Vida: O Filme”, Gabler detalha as regras que Richard Stolley, que fundou a revista People, elencou para uma capa de sucesso: “Jovem é melhor que velho; bonito é melhor que feio; rico é melhor que pobre, TV é melhor que música, música é melhor que cinema, cinema é melhor que esporte, qualquer coisa é melhor que política e nada é melhor do que uma celebridade que acaba de morrer”.

A ideia de ter uma vida pacata, como qualquer pessoa comum leva, passou a ser desvalorizada a medida que esse tipo de culto cresceu. “O que vale é a cultura da emoção e da performance. E a maneira de trazer isso para a rotina da maioria, que não é estrela, é consumir a vida do ator, do músico, do atleta”, completa Neuzi Barbarini.