Carlos Freitas espera o dia que seu telefone vai tocar. Do outro lado da linha, espera que seja sua advogada com boas notícias.
Em 1987, o músico, engenheiro de som e inventor recebeu o pedido de um amigo — então diretor da Telepar — para criar uma melodia simples de cinco notas. A música serviria de vinheta ao serviço de “chamadas a cobrar”, que seria implantado pela empresa no ano seguinte.
Freitas criou um timbre próprio no sintetizador usado pela banda de baile Sanjazz do clube Santa Mônica, da qual era o baterista. Com este som novo, compôs três opções de “musiquinhas” parecidas.
Freitas mostra como criou a melodia de cinco notas da camada a cobrar.
Quem já precisou fazer uma ligação de emergência conhece bem aquela que a Telepar escolheu. Na época, Freitas não fez contrato pela criação pois achava que seria usada somente no Paraná.
Um dia, pouco tempo depois, recebeu uma ligação a cobrar de um amigo maranhense e ouviu sua composição antes de completar a chamada.
“Perguntei para ele se tocava lá também ele me respondeu que o povo tinha posto até letra; ‘tem po-bre li-gan-do pra mim’. Então descobri que a música estava sendo usada por todas as operadoras públicas.”
Só então, Freitas tratou de registrar sua composição e começou um disputa judicial para receber os direitos autorais pelo uso de sua composição no país todo.
“Lembro que quando entrei com o pedido de reconhecimento de autoria, os caras se assustaram: ‘Mas alguém fez isso?’Achavam que tinha caído do céu.”
Primeiro na mão de um escritório de Brasília, e depois com a advogada curitibana Eliane Zenamon, especialista em direito autoral, o processo está tramitando no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em Recurso Especial, última fase do processo ates da decisão final.
A advogada disse não falaria sobre detalhes do processo em razão do sigilo profissional e resumiu como “alta” a estimativa de uma possível indenização.
Em 1990, no tempo dos telefones fixos, Freitas recebeu um laudo da Telebrás que eram feitas em média 50 milhões de chamadas a cobrar por dia (Faça as contas dos direitos autorais disso dia após dia, ano após ano).
“Queria receber, se for reconhecido meu direito em vida”.
Aquarius Band e Megadrones
Nascido em Porto Amazonas, região Sul do estado, e criado no recém-construído Centro Cívico, Freitas era daqueles meninos que “desmontavam o rádio da família para montar de novo”.
Apaixonado por eletrônica, montou uma oficina e matriculou-se no curso técnico do antigo Cefet. Largou porque considerava os estudos caseiros mais avançados.
Ao mesmo tempo, iniciou a carreira de músico profissional. Era o baterista da banda “Os Carcarás” uma das pioneiras do rock no Paraná,que teve por mais de um ano um programa próprio aos domingos no Canal 12 (atual RPC).
Por ter o mesmo empresário que agenciava Roberto Carlos no Paraná e Santa Catarina, a banda abria todos os shows do “rei” na região. “Era uma loucura, as meninas rasgavam nossa roupa”.
A “era” da Aquarius Band : o baterista Carlos Freitas de óculos, no centro, agachado.
Freitas migrou com parte da banda para a lendária Aquarius Band, a mais famosa formação de banda de baile no estado durante a década de 1970
Em 1975, começou a trabalhar no estúdio de gravação Sir, no Batel, o mais importante da cidade nas duas décadas seguintes.
Freitas sempre foi inventor. Construiu em quatro meses a primeira mesa de gravação do Sir com 32 canais, feito a partir de material eletrônico trazido de São Paulo. “Ficou uma beleza. Gravamos muita coisa boa nela por anos”.
Hoje ele se dedica a invenções maiores e mais modernas: megadrones para o lançamento de satélites, um modelo de turbina solar e eólica em forma de pinheiro araucária e um modelo de trem elétrico suspenso para transporte de passageiros na cidade e de cargas até o Porto de Paranaguá.
“Se eu consegui receber em vida a indenização, uma das coisas que eu faria seria um protótipo de um vagão. Para mostrar que o negócio funciona.”
Mas só no dia em que a advogada ligar com as boas novas.
“Pode até ser a cobrar.”
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