Jaime Lerner avisa que é de pouca conversa. Gosta de ir direto ao assunto. “Por isso sempre preferi trabalhar com artistas, poetas... Pela capacidade de concisão. Papo comprido comigo não dá. Esses seminários, por exemplo, são duros de aguentar. Todo aquele discurso politicamente correto de “empoderamento”. Não há saco que aguente”, brinca.
Na noite da última terça-feira (22), porém, o arquiteto que já foi duas vezes prefeito de Curitiba e duas vezes governador do estado, se prestou a alguns dedos de prosa com a plateia no palco do Dizzy Café Concerto.
No espaço que costuma ser ocupado pelo jazz, Lerner, com sua proverbial camiseta preta para dentro da calça social, falou para uma plateia de amigos, fãs, estudantes de arquitetura e clientes desavisados do bar, enquanto bebericava uma taça de Aperol Spritz, o coquetel italiano onipresente nos bares curitibanos.
A seu lado, a cantora e apresentadora Laís Mann lia as crônicas do mais recente livro do urbanista, “Quem Cria, Nasce Todo Dia”. Lerner aproveitava para emendar comentários bem-humorados e lembranças da infância ou de momentos pitorescos de sua atuação política.
A noite era parte do evento “A Polônia é Aqui” que celebra a cultura polaca na cidade no mês de março. O público pôde degustar pierogues com molho de linguiça e doses geladas de vodka enquanto Lerner fazia suas observações. “No passado muitos relacionamentos acabavam em discussões sobre qual caminho tomar. O GPS salvou o casamento”, diz, arrancando risos.
Conhecido por suas ideias inovadoras, Lerner conta que sua fama se deve menos a musas inspiradoras do que por mangas arregaçadas. “O ato de criar não vem da inspiração. Isso é bobagem. Inovar é começar”, ensina.
“A nossa cabeça precisa de dados. ‘Feed me! Feed me!’ (imitando a planta carnívora do clássico trash A Pequena Loja dos Horrores). Com muitos dados na cabeça, você começa qualquer trabalho.”
Não foi a única performance da noite. Lerner solfeja as notas da sanfona de Luiz Gonzaga, canta versos da cantiga “Boi Barnabé” e faz uma imitação (“Jãime...”) digna do ex-correligionário Leonel Brizola.
Despede-se explicando por que se considera o“Forrest Gump” da música. Ele conta que “estava na plateia” em momentos históricos, como o show que batizou a bossa nova em 1957, na Sociedade Hebraica no Rio de Janeiro, viu Chico Buarque mostrar a recém composta “A Banda” na inauguração da praça 29 de março, em Curitiba, em 1966, e muitas outras histórias com nomes como Charlez Aznavour, Tony Bennett e Vinícius de Moraes.
“Gostaria de ser músico, pianista. Cada vez que um amigo entrasse no salão eu, fingindo que não o vi, tocaria sua música preferida. Não seria a melhor homenagem? ”
Já fora do palco, Lerner dá autógrafos, tira fotos e aperta mãos, como um bom político. Ainda curte um par de clássicos da canção americana, antes de sair de cena.
Filme
O diretor e publicitário Carlos Deiró está finalizando o documentário “Jaime Lerner: Uma História de Sonhos”. Filmado nos últimos dois anos, o filme mostra, segundo Deiró, o cotidiano de Lerner e seus pensamentos sobre arquitetura, arte e cidades. A estreia está prevista para o próximo mês de maio.
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