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O cineasta Lars Von Trier posa para fotógrafos durante a 64ª edição do Festival de Cannes | REUTERS/Jean-Paul Pelissier
O cineasta Lars Von Trier posa para fotógrafos durante a 64ª edição do Festival de Cannes| Foto: REUTERS/Jean-Paul Pelissier

O cineasta dinamarquês Lars von Trier, falando em tom de brincadeira, declarou-se nazista em uma coletiva de imprensa no Festival de Cinema de Cannes nesta quarta-feira, causando consternação entre os jornalistas presentes e ofensa a grupos judaicos.

O diretor independente levou ao festival seu filme "Melancolia", uma grande declaração cinematográfica sobre a vida, a morte e o universo, que fascinou o público que lotou o gigantesco cinema Grand Theatre Lumière na sessão para a imprensa.

Mas suas declarações provocantes, que parecem ter sido feitas em tom de brincadeira, ameaçaram deixar em segundo plano o triunfo que foi seu filme, na visão de alguns jornalistas e críticos, e podem prejudicar suas chances de receber a Palma de Ouro de melhor filme do festival.

"Politicamente falando, não dá para dar uma Palma de Ouro a Von Trier", disse Jason Solomons, presidente do Círculo de Críticos de Cinema de Londres, que está em Cannes para acompanhar o festival, que acontece entre 11 e 22 de maio.

"As pessoas talvez digam que o prêmio deve ser dado à arte, e não ao artista, mas hoje em dia não acho isso verdade nem certo", disse Solomons à Reuters depois de ouvir as declarações de Von Trier.

O Hollywood Reporter disse que o cineasta de 55 anos "deu uma de Mel Gibson", aludindo às declarações antissemitas feitas pelo ator em 2006, que prejudicaram gravemente sua reputação.

O Grupo Americano de Sobreviventes do Holocausto e seus Descendentes disse em comunicado à imprensa: "Sobreviventes do Holocausto condenam as declarações repulsivas de Von Trier, uma exploração insensível do sofrimento de vítimas, cometida para sua autopromoção e publicidade".

"Não podemos fazer uma resenha de seu filme, mas, como pessoa, Von Trier é um fracasso moral."

Na coletiva de imprensa em que estava ladeado pelas duas protagonistas de seu filme, Charlotte Gainsbourg e Kirsten Dunst, Von Trier fez várias alusões a fazer um filme pornô longo com as atrizes."Entendo Hitler"

Quando a coletiva de imprensa estava terminando, foi pedido ao diretor - que ganhou a Palma de Ouro em 2000 por "Dançando no Escuro" - que explicitasse declarações que deu em uma entrevista recente sobre seu interesse pela estética nazista.

"Durante muito tempo eu pensei que fosse judeu e estava muito feliz em ser judeu", disse Von Trier. De acordo com biografias, em seu leito de morte sua mãe lhe disse que o pai que ele conheceu por toda sua vida não era seu pai verdadeiro.

"Depois chegou (a diretora dinamarquesa judaica) Susanne Bier, e de repente eu não estava mais tão feliz em ser judeu. Não, isso foi brincadeira, me desculpem".

"Mas ficou claro que eu não sou judeu, mas, mesmo que fosse judeu, eu seria uma espécie de judeu de segunda classe, porque existe uma espécie de hierarquia na população judaica."

"Em todo caso, eu queria realmente ser judeu e então descobri que na realidade sou nazista, sabe, porque minha família era alemã, algo que me deu algum prazer."

Kirsten Dunst demonstrou desconforto quando Von Trier continuou a falar, pegando os jornalistas de surpresa.

"O que posso dizer? Eu entendo Hitler. Acho que ele fez algumas coisas erradas, sim, com certeza, mas eu posso visualizá-lo sentado em seu bunker no final."

"Acho que compreendo o homem. Ele não é o que se poderia chamar de um bom sujeito, mas compreendo muita coisa nele e simpatizo um pouco com ele. Mas não sou a favor da Segunda Guerra Mundial e não sou contra os judeus."

"É claro que sou muito a favor dos judeus. Não, não muito, porque Israel é um pé no saco. Mas, mesmo assim - como posso sair desta sentença?"

Von Trier expressou admiração pelo arquiteto nazista Albert Speer, antes de concluir outra sentença desconexa com "Ok, sou nazista".

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