Morreu no último sábado (2), aos 80 anos, a atriz Tereza Rachel. Ela estava internada desde o dia 30 de dezembro do ano passado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital São Lucas, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Tereza teve um quadro agudo de obstrução intestinal que acabou se agravando. As informações foram confirmadas ao jornal Extra pela assessoria de imprensa do hospital.
Nascida em 19 de agosto de 1935 na cidade de Nilópolis, na Baixada Fluminense, como Teresinha Malka Brandwain, a atriz foi casada com o cineasta Ipojuca Pontes. Tinha uma personalidade forte, que se traduziu em atuações consagradas no teatro e na TV e no empenho em construir um teatro sozinha.
Na década de 1960, participou de peças históricas. Em 1965, esteve na primeira montagem de “Liberdade, Liberdade”, de Flávio Rangel e Millôr Fernandes, com o Grupo Opinião, um marco do teatro de protesto. Dois anos depois, interpretou Jocasta em “Édipo Rei”, com Paulo Autran e direção também de Flavio Rangel. Em 1969, integrou o elenco da primeira e histórica montagem brasileira de “O Balcão” (1969), de Jean Genet, dirigida pelo argentino Victor Garcia.
Ao longo da carreira, Tereza trouxe vários textos de vanguarda para serem montados no Brasil pela primeira vez. Foi o caso de “A mãe” (1971), do polonês Stanislaw Witkiewicz, que ela conheceu ao assistir a uma montagem em Paris. De tão empolgada, convenceu o diretor francês Claude Régy a vir cuidar da versão brasileira. Com ela, Tereza levou o prêmio Molière de melhor atriz. Em 1972, Tereza produziu e atuou em ?Tango? (1972), do polonês Slawomir Mrozek, dividindo o palco com Sergio Britto, sob direção de Amir Haddad.
“Ela tem uma dimensão estelar absoluta. Uma grande atriz que tem uma história de vitória, comunidade judaica pobre e conseguiu se projetar de uma forma absoluta. É uma atriz muito intensa, com grande força dramática”, disse a crítica de teatro Tânia Brandão.
Naquela época, início dos anos 1970, sentiu que seu compromisso com o teatro ia além do que levava aos palcos. Foi atrás de um financiamento e empenhou-se em criar um teatro propriamente dito, em Copacabana, com o seu nome. Aberto provisoriamente em 1971 e inaugurado em 1972, o Teatro Tereza Rachel foi um importante polo cultural durante a década. No mesmo palco em que Gal Costa fez o cultuado show “Gal Fatal” (1971), Luiz Gonzaga, Clementina de Jesus e Dalva de Oliveira realizaram suas últimas apresentações.
Entre 2001 e 2008, o espaço foi alugado para a Igreja Universal do Reino de Deus e deixou de receber produções culturais. Em 2004, depois de ver uma entrevista na qual Tereza lamentava o fato de não ocupar mais aquele espaço com espetáculos, Miguel Falabella, na época gestor da Rede Municipal de Teatros, iniciou negociações para que a prefeitura alugasse o equipamento, o que resultou no tombamento do local. Entretanto, ele só voltou a funcionar regularmente como sala de espetáculos em 4 de abril de 2012, depois de ser arrendado por Frederico e Juliana Reder e passar se chamar Net Rio.
A atuação de Tereza Rachel nos bastidores teve outros episódios, um deles mais complicado. Durante o governo de Fernando Collor, no começo dos anos 1990, seu segundo marido, o cineasta Ipojuca Pontes, assumiu o cargo de secretário nacional de Cultura, e a defesa da gestão política adotada acabou rendendo desentendimentos entre a atriz e outros artistas.
Na TV, Tereza fez personagens que ficaram na memória do público, como a dondoca Clô Hayalla, da primeira versão de “O astro” (1977) e a Rainha Valentine, de “Que rei sou eu?” (1989). A partir do final dos anos 1990, Tereza ficou mais afastada dos palcos e das telas. Fez pequenas participações em novelas como “Caras e Bocas” (2009), “Tititi” (2010) e “Babilônia”, além da série “Alice” (2008), da HBO.
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