Está marcado para dia 18 de junho, em Berlim, na Casa das Culturas do Mundo: debate com cineasta brasileiro Marcelo Gomes e, em seguida, a exibição de seu filme "Cinema, aspirinas e urubus". Bem, quase em seguida. Afinal, é ano de Copa do Mundo e calhou de ter um Brasil X Austrália no meio da programação. Ou seja, a ordem será debate/jogo no telão/filme. A idéia da Copa da Cultura, iniciativa do Ministério da Cultura, é essa mesmo: promover (com eventos na Alemanha) a cultura brasileira no exterior pegando carona na atenção que a competição atrai nesse momento. Sem brigar com a bola, claro.
- Nenhum evento foi programado para cair junto com jogos do Brasil - confirmou Sérgio Sá Leitão, da Secretaria de Políticas Culturais do MinC e coordenador da Copa da Cultura, em encontro com a imprensa em Berlim.
A mostra reúne, em cerca de 200 eventos, um panorama da arte brasileira, com bastante espaço para a produção dos últimos anos. Vai do encontro inédito de Chico Buarque e Mart'nália até a exibição de filmes da nova safra ("O invasor") e clássicos ("Iracema"), passando por uma retrospectiva de Nelson Rodrigues e pela exposição "Os onze", com obras dedicadas ao futebol. Iniciada em janeiro, a Copa da Cultura ganha gás a partir desta quinta-feira, quando o ministro da Cultura Gilberto Gil abre a programação brasileira na Casa das Culturas do Mundo, em Berlim - até o dia 9 de julho, o espaço é totalmente dedicado ao Brasil.
Mais que valorizar a auto-estima nacional, Sá Leitão faz questão de ressaltar que o objetivo da Copa da Cultura é mostrar que a cultura representa uma possibilidade de aumentar as divisas do Brasil.
O governo brasileiro sempre teve uma visão industrialista, com a cultura tendo um papel secundário, como mera trilha sonora para evento de exportação. Queremos inverter essa lógica. O ano do Brasil na França, por exemplo, gerou um aumento de 36% no volume de turistas franceses no Brasil, comparando o primeiro trimestre de 2005 com o mesmo período em 2006. O Midem, maior feira de música do mundo, teve dobrada a participação do Brasil no último ano. A Copa da Cultura é um programa de apoio à exportação - definiu, anunciando que o governo pretende fazer iniciativas semelhantes no Japão, em 2008, e na Espanha, em 2009.
A eficácia desse tipo de investimento do dinheiro público, em projetos fora do país, vem sendo questionada. O próprio Sá Leitão admite que medir o sucesso dessas iniciativas é difícil, mas não tem dúvidas de que compensa:
- O governo investiu US$ 300 mil no Midem e o Brasil teve um retorno, em negócios, de US$ 3 milhões. O investimento total na Copa da Cultura é de US$ 30 milhões, sendo que metade é do governo brasileiro e outra metade de parceiros alemães. O investimento é menor que o do Ano do Brasil na França e deve nos dar um retorno maior.
Se é difícil medir o sucesso em termos financeiros, a Copa da Cultura tem tido boa resposta de público. A série de música clássica vem lotando uma sala de 350 lugares, com ingressos esgotados com dias de antecedência. Para os espetáculos de música, 80% dos ingressos já foram vendidos. O show de Chico e Mart'nália, marcado para 16 de junho, está esgotado - juntos no palco, eles tocarão cinco músicas entre seus shows individuais, em apresentação bem que podia passar pelo Brasil.
Entre os destaques da programação, estão as apresentações de Gil com a roda de samba de Nicinha, da coreógrafa Lia Rodrigues, as exposições "Tropicália" (atualmente em cartaz na Inglaterra) e "A imagem do som - Futebol", o debate com o escritor Luiz Fernando Veríssimo, a festa com DJ Marlboro, a exibição de filmes produzidos depois de 2000 e os espetáculos teatrais da série Brasil Em Cena.
A escolha dos artistas foi feita por curadores específicos em cada setor. Na música popular, por exemplo, os encarregados foram Hermano Vianna e Beth Cayres, e nas artes plásticas, Luiz Camillo Osório. Todos eles fizeram a seleção em parceria com curadores alemães. Além dos convidados, a Copa da Cultura também tem a presença de artistas que tiveram seus projetos aprovados pelo MinC (42 no total) e outros tipos de apoio.
- A seleção não se pautou apenas pelos critérios mercadológicos, importantes quando se pensa em exportação. Não abrimos mão da lógica cultural - ressaltou Sá Leitão. - Se não fosse assim, teríamos apenas artistas de massa.
A Copa das Cultura tem em seu favor o fato de hoje, de sandálias Havaianas a Ronaldinho, passando pelo funk carioca e pela caipirinha, o Brasil ser um país que interessa ao olhar estrangeiro. Até que ponto esse interesse não teria caráter de moda passageira, puro "hype", e esvaziaria de uma hora para outra amanhã?
- Eventos como o Ano do Brasil na França e a Copa da Cultura resultam desse "hype" e também o alimentam. Mas também são uma forma de dar solidez a esse interesse - ponderou Sá Leitão.