
O maestro Gilberto Mendes morreu nesta sexta-feira (1.º), aos 93 anos, em Santos. Ele teve complicações coronárias e de asma. Mendes foi um dos maiores compositores de música de concerto na história do Brasil.
Em 1963, ao lado de Willy Corrêa de Oliveira, Rogério Duprat, Júlio Medaglia e outros, ele havia assinado o Manifesto Música Nova, que – juntamente com a criação do Festival Música Nova – o levou à liderança da vanguarda musical brasileira.
É possível, entretanto, ser admirador das vanguardas musicais sem gostar da música de Gilberto Mendes. Suas obras, em geral, colocam a criatividade acima do desenvolvimento artesanal, recusam a elaboração paciente dos materiais musicais.
Nas aulas de composição para os alunos da USP (Universidade de São Paulo) na década de 1980, ele mesmo admitia que os compositores do passado só escreviam longas sinfonias “porque não iam à praia”. Uma de suas composições é justamente “Ulysses em Copacabana Surfando com James Joyce e Dorothy Lamour”, de 1988.
É estranho que essa “música-teatro” – sua denominação preferida –, muitas vezes simples e cheia de humor, tenha se tornado uma quase unanimidade crítica, aceita mesmo por aqueles que, em outros casos, tenderiam a recusar seu flerte libertário com todos os estilos e fusões da pós-modernidade.
A teatralidade está embutida igualmente em obras instrumentais puras, como “Vento Noroeste” para piano (1982), na qual um acorde clássico de si maior interrompe obsessivamente o discurso atonal e fragmentário.
Se a unanimidade crítica sobre sua obra parece um tanto apressada e irrefletida, a generosidade pessoal de Gilberto Mendes e a importância de sua presença como incentivador das gerações mais novas foram incontestáveis.
Ele frequentemente ia a concertos de gente desconhecida e escrevia textos de CDs a pedido de jovens músicos; não amava apenas a música, mas o debate em torno dela, suas interações com outros domínios da cultura.
Talvez a área para a qual ele tenha deixado uma contribuição mais consistente e palpável seja a da música coral, sobretudo graças à colaboração com o grupo Madrigal Ars Viva de Santos (dirigido inicialmente por Klaus-Dieter Wolff e depois por Roberto Martins).
Obras divertidas como “Ashmatour” (1971) -em que zomba da própria asma – e sua utilização de textos da poesia concreta paulista são destaques de sua produção, como o “Motet em Ré Menor: Beba Coca-Cola” (1967), sobre poema de Décio Pignatari (1927-2012), e “O Anjo Esquerdo da História” (1997), com texto de Haroldo de Campos (1929-2003).
Nesta última – uma de suas melhores obras –, a força da elegia às vítimas do massacre de Eldorado dos Carajás (ocorrido em 1996, no Pará) faz Mendes passar abruptamente de um registro sacro para a pura declamação do rap, fechando um estranho réquiem aos “sem terra afinal assentados na pleniposse da terra”.
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