
Quem estava entre as tropas aliadas que haviam libertado a França dos alemães diria que o silêncio daquela manhã de 16 de dezembro de 1944 durou dois séculos.
Outros jurariam que sentiram no peito a força de um morteiro nazista. Os soldados receberam as primeiras notícias quando se preparavam para comemorar a vitória ao som da orquestra do major Alton Glenn Miller, um astro, o maior vendedor de discos do mundo desde 1939, o grande Glenn Miller. O avião monomotor de nove lugares que havia partido com ele de Twinwood, ao sul da Inglaterra, não havia chegado a Paris.
Além do músico e do piloto, dois oficiais norte-americanos estavam a bordo. "Eles não chegaram" parecia uma notícia mais devastadora do que "eles morreram".
Setenta anos e três dias depois de desaparecer entre as nuvens de uma noite de tempestade, talvez ele próprio não soubesse em vida ter criado um som de orquestra à prova do tempo. À frente de uma das fundamentais big bands brancas da era do suingue, Miller usou combinações de timbres, sobretudo entre clarinetes, trombones, sax e trompetes, com tamanha propriedade que ergueu um monumento no jazz.
Ainda que toque um tema desconhecido, se é que sobrou algum, duas notas e sabe-se que aquele som sai de sua orquestra.
As buscas pelos destroços do avião de Glenn Miller terminaram sem que nenhuma parte da fuselagem fosse encontrada. Ele não chegou para a festa, mas deixou música suficiente para embalar salões pelos próximos séculos.



