Estreia
A Espuma dos Dias
(Lecume des Jours. França/Bélgica, 2013). Direção de Michel Gondry. Com Romain Duris, Audrey Tautou e Gad Elmaleh. Espaço Itaú de Cinema Sala Vip 4, às 13h30, 16 horas e 21h10. Mais informações em guia.gazetadopovo.com.br/cinema.
Em cartaz em uma das salas vip do Espaço Itaú de Cinema desde ontem, A Espuma dos Dias é daqueles filmes dos quais sabemos o que esperar e, mesmo assim, nos surpreendemos a cada plano que se sucede na tela. Ainda que você vá ao cinema ciente do surrealismo da história original de Boris Vian (1920-1959), e da predisposição do diretor Michel Gondry para transformar em imagens as fantasias mais extravagantes, ainda que você saiba que a história é sobre o encontro de uma mulher que tem uma flor de lótus crescendo em seu pulmão com um homem que interage com ratos, sapatos com vida própria e enguias que brincam de esconde-esconde antes de ir para a panela, ainda assim você vai ficar espantado com os delírios visuais do cineasta francês.
O problema é que o filme oferece pouco além desses delírios. Lá pelas tantas eles já não bastam para prender a atenção, e A Espuma dos Dias se torna tedioso, bem mais do que os melhores trabalhos de Gondry (Natureza Quase Humana e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças), mas não tanto quanto os piores (A Ciência do Sonho, sobretudo). Seu novo longa-metragem tem muito a ver com os videoclipes doidões (no melhor sentido) que ele dirigiu para Bjork. Com a desvantagem de se estender por mais de duas longas horas.
Chamar A Espuma dos Dias de uma Alice no País das Maravilhas francesa e mais adulta pode soar desaforado, mas tem sentido. A wonderland, aqui, é a própria vida de Colin (o galã Romain Duris), sujeito endinheirado que mora com o cozinheiro, advogado e conselheiro sentimental Nicolas (Omar Sy, o imigrante de Intocáveis). Seu romance com Chloé (Audrey Tautou) começa atrapalhado, o que ajuda a dar graça à parte inicial do filme.
Convém lembrar que Boris Vian, além de escritor, era músico, e A Espuma dos Dias lembra esse aspecto de seu universo não só com Duke Ellington (Chloé é o nome de um standard do jazz que Colin ama), mas com inserções de músicas de Paul McCartney e Ray Shanklin, entre outros.
O melhor amigo do protagonista é Chick (o comediante Gad Elmaleh), um devoto do filósofo Jean-Sol Partre, que aqui aparece ironicamente como uma espécie de bispo do mal a sugar o seu dinheiro. A grana de Colin também se esvai conforme avança o tratamento para curar Chloé da doença pulmonar (a tal flor não para de crescer). Há uma moral antimaterialista por trás da história, mas limitá-la a isso seria um erro. Gondry acerta ao encher a trama de detalhes, dos comentários mais ácidos de Vian sobre o homem de seu tempo às pequenas e divertidas bobagens que povoam o país das maravilhas imaginado pelo autor. Pena que não tenha condensado tudo com um roteiro mais harmônico e de ritmo mais fluido.
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