Los Angeles O escritor americano Gore Vidal tem sido um dos mais fervorosos críticos do establishment norte-americano contemporâneo e, aos 81 anos, o enfant terrible da cultura ianque destila como nunca sua mordacidade. Sessenta anos depois de ter lançado o livro Williwaw e começado uma carreira que inclui 35 romances, cerca de 20 roteiros e dezenas de ensaios, a voz de Vidal continua fazendo eco. Em uma extensa entrevista, Vidal revela que algo muito simples explica seu longo ativismo: "o Estado da União (State of the Union). Perdemos a República, foi se", afirmou, suspirando, antes de disparar: "e isto ocorreu em cinco anos, à raiz de um grande golpe de Estado".
Em 2006, Vidal foi um colaborador de luxo em dois filmes The US vs John Lennon (que abre, na próxima quinta-feira, a Mostra Internacional de cinema de São Paulo) e Global Haywire , enquanto as livrarias abrem espaço para a seqüência de suas memórias que serão lançadas no próximo mês. Vidal também deu seu apoio para o grupo World Cant Wait (O Mundo não pode esperar), que reivindica a renúncia imediata do presidente George W. Bush.
O frágil estado de saúde do escritor o forçou a abandonar, contra a vontade, seu palazzo em Ravello, nos arredores da cidade italiana de Nápoles, onde viveu por 32 anos, para se radicar em Los Angeles (Califórnia, oeste dos EUA). Agora, vive nas colinas de Hollywood em um casarão com jardim sempre ensolarado e salas lotadas de livros e móveis antigos. Ali, poucos dias depois de completar 81 anos, as opiniões radicais que o caracterizaram ecoam em sua fase mais incendiária. Não surpreende ouvi-lo dizer que Bush chegou à Casa Branca graças a um golpe de Estado e que a guerra contra o terrorismo é um recurso totalitário planejado com premeditação e deslealdade para manter a população assustada.
Para Vidal, Bush é o culpado de tudo, e ao ser consultado se ainda sustenta o que disse em 2002, que Bush deixaria a Casa Branca como o presidente mais impopular da história americana, afirma: "Usei uma palavra mais forte, disse o mais odiado. Demonstrei ser um profeta". Ele sustenta com estatísticas que a apatia política coloca o país em risco, mas, ao mesmo tempo, diz acreditar que esta não é uma situação irreversível.
"O fogo está ardendo neste momento. As pessoas estão começando a entender, devagar. Mas é muito difícil quando o outro lado controla os meios de comunicação. O povo não tem qualquer meio para descobrir o que de ruim está acontecendo", explica Vidal. Até mesmo o cinismo dos eleitores é compreensível para ele. "Nossos partidos políticos são, nas palavras do presidente John Adams, facções. São conspiradores para ganhar o poder das grandes administrações do Estado. Portanto, as pessoas não vêem nenhuma razão para votar, a não ser que se apresente a elas um assunto quente, como a raça ou o sexo. E, então, tudo fica absurdo", acrescenta. O escritor se diz convencido de que o atual governo explorou os atentados de 11 de setembro de 2001 para empreender uma política "psicótica".
"Depois do 11 de Setembro, cada televisão, cada rádio dos Estados Unidos tem declarado: Não se trata de se vão nos atacar ou não, mas quando!", denuncia o autor, que também se aventurou na dramaturgia. "E agora Bush diz, temos que combatê-los lá para não termos que combatê-los aqui. Como se Saddam Hussein fosse entrar em um barquinho e remar até os Estados Unidos para começar uma guerra conosco!", ironiza.
"Manter as pessoas assustadas foi um grande truque totalitário aprendido das ditaduras européias dos anos 1930", continua. Vidal admite estar assustado com o estado do mundo: "Estou alarmado. Seria um idiota se não estivesse". A noção de que o cristianismo está ameaçado por um confronto teológico com o Islã radical é uma posição, sobretudo, de desprezo, afirma. "Bush finge que somos uma república cristã e que estamos em uma guerra de culturas entre o mundo cristão e o mundo muçulmano, quando não somos tão cristãos nos Estados Unidos e, portanto, não há razão, em nenhum caso, para uma guerra", sustenta.
Gore Vidal dirige suas críticas à política de Bush, mas mantém distância das teorias conspiratórias que circulam na internet segundo algumas das quais os ataques de 2001 foram tramados pela Casa Branca. "Bush nunca teria podido fazer explodir as torres. É incompetente demais", afirma. "Tudo o que ele toca é um desastre" e os atentados do 11 de Setembro foram "maravilhosamente executados nos Estados Unidos, além de sua capacidade". Por último, critica o mundo por ter demorado em reagir e em entender o que aconteceu nos Estados Unidos depois das eleições de 2000, que ele insiste ter sido um golpe de Estado, possível por uma fraude eleitoral. E declara, taxativo: "Foi um golpe de Estado. É assim que precisa ser visto. Não é uma hipérbole, não é um exagero, são os fatos. Os europeus nunca entenderam os Estados Unidos, porque não têm idéia e não querem entender como nós funcionamos ou por que fazemos o que fazemos. E nós devolvemos a gentileza", ironiza.
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