Grace e seus grandes olhos: visão de um teatro transformador.| Foto: Lucas Ávila/Divulgação

Se fosse um jogador de futebol, Grace Passô seria o impossível caso de um artilheiro que todo ano vence o campeonato, é o craque, ganha a Bola de Ouro, mas permanece no anonimato. Pois hoje a mineira de 35 anos é considerada pela crítica especializada a melhor atriz do Brasil – em qualquer área – e mesmo assim segue uma ilustre desconhecida do grande público.

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Grace em “Vaga carne”, em Curitiba, com seu texto e direção. 

Premiações não faltam em seu currículo. Ela já ganhou o Prêmio Shell de Teatro e o prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) pelo texto de “Por Elise”, em 2006; Sesc- Sated-MG como dramaturga (2005 e 2006); Usiminas como melhor atriz e autora (2006); e a Medalha da Inconfidência (2011), e várias indicações. Além de atriz, ela também escreve peças e, como é possível perceber pelas datas, exerce esse ofício desde jovem — ela entrou no curso de teatro aos 14 anos, em BH.

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Por isso quem já teve contato com ela não poupa elogios. “Nas três performances cênicas em que a vi (‘Líquido Tátil’, ‘Krum’ e ‘Grãos da Imagem: Vaga Carne’), tive a sensação de estar à frente de uma força da natureza”, diz o ator Nathan Milleo.

“Ela é genial”, concorda a atriz Rosana Stavis, paranaense que também é considerada uma das melhores do país por seus pares. “Seus personagens têm muitas camadas de emoção, o que os torna ao mesmo tempo complexos e apaixonantes”, derrama-se.

Ficha técnica

Nome: Grace Passô (Grace Anne Paes de Souza)

Idade: 35 anos (aniversário dia 20 de maio)

Nascimento: Belo Horizonte (MG)

Grupos por que passou: Armatrux, Clara Cia., Espanca! Colaboração com a curitibana Cia. Brasileira de Teatro

Filme: “O céu sobre os ombros” (2011)

Seriado: “O caçador” (2014)

Peças publicadas: “Por Elise”, “Amores Surdos”, “Marcha para Zenturo” e “Congresso Internacional do Medo” (Editora Cobogó).

Prêmios: Shell e APCA pelo texto de “Por Elise” (2006); Sesc- Sated MG como dramaturga (2005 e 2006), Usiminas como melhor atriz e autora (2006); Medalha da Inconfidência (2011) e várias indicações.

Apesar da origem mineira, Grace tem uma grande ligação com a capital paranaense. Passou por Curitiba no último Festival de Teatro com “Vaga Carne”, e foi por aqui, em 2005, que foi “descoberta” pelos críticos, em “Por Elise”.

“A primeira imagem que tenho dela, no Fringe, é de um forte contraponto entre contenção e expressão”, afirma a crítica Beth Néspoli. “Nenhum gesto sobrando, nenhum excesso vocal, e, mesmo assim, muitos sentidos ressoavam no modo como modulava as palavras em sutil ironia.”

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Para quem acompanha suas performances, o motivo de tanta força seria o fato de ela nunca entrar em cena sem estar “profundamente empolgada pela existência daquele evento teatral”.

As quatro peças de sua autoria que estão publicadas. 

Multitarefa

Grace sempre vinha ao Festival com o grupo Espanca!, do qual se separou em 2014. Depois disso colaborou como atriz com a curitibana Companhia Brasileira, em “Krum”, e tem parceria com Nadja Naira na iluminação de “Vaga Carne”.

“A mesma densidade volta à minha memória na imagem de seu corpo embalando ao colo, sem qualquer aparência de esforço, um ator de estatura muito superior à dela, em ‘Amores Surdos’”, espanta-se Beth Néspoli.

“Ela é hipnotizante. Quando eu vejo ela em cena, com aquela força, não consigo prestar atenção ao que acontece em volta. Quando ela diz um texto, ele sempre sai afiado e enérgico e, mesmo aquilo te destruindo, você não consegue desviar. Ela te desarma completamente e faz você escutar o que ela tem a dizer até o final. É um trabalho lindo de disciplina e precisão.”

Dimis Jean Sores diretor de “Peça Ruim” e “Bifes_1”
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Mais uma hipótese para a ascensão da artista é o fato de escrever textos e também dirigir. “Acho bastante característico da contemporaneidade que as funções se complementem, as linhas criativas desapareçam e assumam uma nova potência”, diz o diretor curitibano Diego Fortes, do grupo A Armadilha. “A Grace é uma pessoa de teatro e exerce qualquer uma dessas funções, equilibrando magistralmente técnica e força.”

Grace tem quatro peças de sua autoria publicadas e foi premiada até mais vezes como dramaturga do que como atriz. Tem sido convidada também para outros trabalhos em cinema e televisão: estreou na Globo na série “O Caçador”, ao lado de Cauã Reymond, e está no elenco do longa “O Céu Sobre os Ombros” (2011), de Sérgio Borges.

“Grace Passô se consolida a cada trabalho como uma das atrizes mais importantes do país. Nas três performances cênicas que a vi (‘Líquido Tátil’, ‘Krum’ e ‘Grãos da Imagem: Vaga Carne’), tive a sensação de estar à frente de uma força da natureza, de um turbilhão de sensações.”

Nathan Milléo GualdaAtor