A última vez que Luiz Gonzaga (1912 - 1989) foi homenageado com uma coleção de discos, reunindo o melhor de sua obra, tão vasta quanto multifacetada, ele ainda estava vivo. Em 1988, a BMG colocou no mercado a caixa 50 Anos de Chão, que compilou o legado do Rei do Baião em cinco LPs. Oito anos mais tarde, esse mesmo "pacote" seria adaptado para o formato digital, tendo todo seu repertório agrupado em três CDs.
Agora, já no século 21, a Sony BMG lança outra caixa com a obra do imortal Lua, talvez de olho no rnenascimento que os ritmos nordestinos, sobretudo o forró, desfrutam em todo o país.
Monumento Nordestino apresenta três CDs temáticos com 42 fonogramas, ao todo e o DVD Danado de Bom, lançado originalmente em 2003 com a gravação de um especial feito por Gonzaga em 1984 para a Rede Globo, com a participações de Elba Ramalho e Gonzaguinha (1945 1991).
Monumento Nordestino organiza o vasto repertório de Gonzagão em gêneros musicais. O CD 1, intitulado O Rei do Baião, está centrado no gênero que Lua criou nos anos 40 e propagou em todo o Brasil. É imperdível e emocionante. Já o segundo disco, Na Toada do Xote, como diz o próprio título, engloba os dois ritmos enfocados no repertório de hits. Do longe, o grande destaque do CD é a gravação original do clássico absoluto "Asa Branca", composta em 1947, em parceria com Humberto Teixeira. Esse registro é mais obscuro e, portanto, mais raro, já que a gravação de 1952 costuma ser a mais incluída em coletâneas.
Por último, o terceiro disco, Lua do Brasil, passeia pela imensa paisagem rítmica da discografia do cantor e acordeonista, que gravou choro, samba, marcha carnavalesca e até valsa.
Biografia
Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu em 13 de dezembro de 1912 na cidade pernambucana de Exu, no coração do sertão nordestino.
Seu pai, Januário, trabalhava na roça, numa grande fazenda, e nas horas vagas tocava acordeão. Foi com ele que Luiz Gonzaga aprendeu a tocar o instrumento. Ainda menino, começou a se apresentar em bailes, forrós e feiras, de início acompanhando seu pai.
Ícone máximo da cultura nordestina, Lua, como era conhecido entre seus amigos e parceiros musicais, manteve-se fiel às suas origens mesmo seguindo carreira musical no Sudeste do Brasil.
Depois de uma passagem pela Exército Brasileiro, Lua, então morando no Rio de Janeiro e já sem farda, começou por tocar na zona do meretrício. No início da carreira, apenas solava acordeão (instrumentista), tendo choros, sambas, fox e outros gêneros da época. Seu repertório, contudo, era composto basicamente de músicas estrangeiras que apresentava, sem sucesso, em atrações radiofônicas de calouros.
Tudo mudou no programa de Ary Barroso: Gonzaga foi aplaudido executando "Vira e Mexe" (a primeira música que gravou em disco de 78 rotações por minuto e, infelizmente, ausente na caixa da Sony BMG). Era um tema de sabor regional, de sua autoria. Veio daí a sua primeira contratação, pela Rádio Nacional.
Em 11 de abril de 1945, Luiz Gonzaga gravou sua primeira música como cantor, no estúdio da RCA Victor: a mazurca "Dança Mariquinha", em parceria com Saulo Augusto Silveira Oliveira, esta, sim, incluída no CD 3 de Monumento Nordestino.
Também em 1945, uma cantora de coro chamada Odaléia Guedes deu à luz um menino, no Rio de Janeiro. Luiz Gonzaga tinha um caso com a moça iniciado, provavelmente, quando ela já estava grávida e assumiu a paternidade do menino, adotando-o e dando-lhe seu nome: Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior.
Gonzaguinha, que viria a se tornar um dos grandes nomes da MPB nas décadas de 70, 80 e 90, foi criado pelos seus padrinhos, com a assistência financeira do artista.
Em 1948, casou-se com a pernambucana Helena Cavalcanti, professora que tinha se tornado sua secretária particular. O casal viveu junto até perto do fim da vida de "Lua". Não teve filhos, já que Gonzagão era estéril. Gonzaga sofria de osteoporose. Faleceu vítima de parada cárdio-respiratória no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana, seu corpo foi velado em Juazeiro do Norte e, posteriormente, sepultado em seu município natal.
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