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No processo de escrita, a perspectiva de ter seu livro lido por milhões de pessoas o assusta?Antes de qualquer coisa, eu já tinha uma vida boa e havia alcançado um pouco de sucesso antes de A Última Grande Lição ser lançado. Eu era conhecido como jornalista esportivo e estava bem contente. Quando o livro saiu, não era para ser nada grande e, de repente, tornou-se uma coisa imensa. Eu aprendi que, de início, se você pensa demais, vai acabar errando. Se você pensa: "Isso vai ser grande, grande, grande!", então provavelmente não será. Se você pensa "isso não é nada", ela acaba se tornando grande. Então, não penso muito no que pode acontecer. Se houve qualquer coisa assustadora foi que A Última Grande Lição se tornou tão grande que eu não sabia ao certo o que escrever depois dele. Todas aquelas pessoas que não queriam publicar o livro, que o acharam muito deprimente, chegaram para mim dizendo "que tal quartas-feiras com Morrie, ou sextas-feiras com Morrie?" (em referência ao título original: Terças-feiras com Morrie). Eles queriam que eu escrevesse a mesma coisa e eu não queria transformar o livro em uma franquia. Eu tenho muito material, poderia fazer dez livros, mas essa não era a idéia.

Você listou características que marcam sua obra, como a simplicidade e os grandes temas – como o sentido da vida. Na sua opinião, o que o leitores buscam quando lêem seus livros?Provavelmente... (suspiro) Como aproveitar melhor o tempo que temos na Terra, usando-o de modo satisfatório. Se tivesse de dizer que há um tema em comum nos meus livros, eu diria que é a compreensão de que não se vive para sempre. A Última Grande Lição é sobre como viver sua vida como se todo dia fosse o último – porque pode ser. As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu é a compreensão de que todo mundo importa e que não se deve viver achando que sua existência não faz diferença. Por Mais Um Dia fala sobre o desejo que as pessoas têm de passar mais um dia com alguém que já morreu, mas essas mesmas pessoas, muitas vezes, não dedicam muito tempo a esse alguém enquanto ele ainda está vivo! É um tema comum, enfim.

Você tem uma banda com Stephen King e outros escritores, a The Rock Bottom Remainders. Os autores integrantes da banda têm algo em comum?Todos somos péssimos músicos! (Risos) Felizmente, não cobramos ninguém para nos assistir. Nós tocamos apenas em shows beneficentes. Eu toco piano, Stephen King (autor de O Iluminado) tenta tocar guitarra, Frank McCourt (As Cinzas de Ângela) toca gaita, Scott Turow (Acima de Qualquer Suspeita) não faz nada, ele só tenta cantar...

E que tal um CD?Meu Deus, não! Não queremos que ninguém tenha a chance de nos ouvir mais de uma vez. Nós somos mesmo terríveis.

Você e Oprah Winfrey parecem trabalhar bem juntos. Ela fez um telefilme de sucesso com A Última Grande Lição, vencedor de quatro Emmys, e deve adaptar Por Mais um Dia. O que faz essa colaboração funcionar?De alguma forma, ela conseguiu ler um manuscrito de A Última Grande Lição antes de se tornar um livro. Ela entrou em contato e disse que gostaria de fazer um filme do livro. Mas ainda não havia um livro! Eu disse "tudo bem". Quando o livro saiu, muita gente me ligou dizendo que queria adaptá-lo e eu respondia que já havia assumido compromisso com a Oprah. Ela fez um filme muito bom e é muito profissional e tem pessoas muito competentes trabalhando para ela. Desde então, ela perguntou se, toda vez que eu lançar um livro, ela poderia dar uma olhada antes de todo mundo. Ela não quis As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu porque não faz filmes grandes (com reconstituição de época, etc.), mas decidiu que faria um filme de Por Mais Um Dia. Agora, eu conheço o estúdio em que ela trabalha, conheço os diretores com que trabalha e é muito confortável. Normalmente, quando a Oprah quer um ator para trabalhar no filme, ela pega o telefone e liga para ele. Porque ela conhece todo mundo!

Você teve chance de conversar com Jack Lemmon?Sim. A Última Grande Lição se tornou o último filme dele. Na primeira conversa que tivemos, ele veio até mim e perguntou "Nós podemos conversar a sós?". Nós nos sentamos e ele queria saber como Morrie reagiu quando soube que iria morrer. Eu achei que ele estava perguntando como ator, para compor o personagem, mas, depois de algumas questões, eu achei que ele perguntava porque estava doente, embora não dissesse a ninguém. No final, ele estava mesmo. Depois, Jack Lemmon foi indicado ao prêmio Emmy e eu liguei para parabenizá-lo. Eu disse: "Quando você ganhar – porque você vai ganhar – não esqueça do escritor. Porque todos sempre esquecem do escritor!". Ele riu. A cerimônia foi três meses depois. Eu não pude ir, mas vi uma gravação da entrega. Eles anunciaram o nome de Jack Lemmon, ele subiu ao palco e, quando os aplausos pararam, ele disse "A primeira coisa que eu quero fazer é agradecer o escritor, Mitch Albom...". Eu fiquei emocionado.

Como leitor, o que você busca em um livro?Primeiro de tudo, eu quero que alguma coisa aconteça. Eu conheço escritores ótimos, com um uso maravilhoso da língua inglesa, mas, depois de 30 páginas, ninguém saiu da sala. Não pode ser só sobre introspecção – o que nós, na América, chamamos de "contemplar seu próprio umbigo". Livros assim, eu começo a ler, mas não termino.

Poderia citar alguns exemplos do que considera boas leituras?Gilead, de Marilynne Robinson. Lindo, há um milhão de frases que posso pensar a respeito sem parar. História do Amor, de Nicole Krauss, você conhece? Essa garota sabe escrever...

Você tem heróis? Pessoas que o inspiram?Eu sou uma daquelas pessoas que acredita que os seus heróis devem ser pessoas próximas de você, da sua própria família. Eu não tenho nenhum herói que eu não conheça. Ninguém para mim é um herói porque está no palco ou é um atleta em um uniforme. Eu trabalho com pessoas famosas o tempo todo. Eu os conheço e alguns são bons e outros, não. Eu vejo a loucura de idolatrar pessoas que você não conhece – porque elas não estão pensando em você. Eu acho que você deveria transformar em heróis pessoas como seus pais, seus tios, seus professores. Morrie foi um herói para mim. Eddie foi. Meus pais. São pessoas cujos sacrifícios eu posso ver.

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