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Ao receber um de seus prêmios no Video Music Awards da MTV americana na noite passada em Miami, Billy Joe Armstrong, líder do Green Day, soltou uma frase ressentida: "é bom saber que o rock ainda tem lugar na MTV". Se considerarmos que o grupo saiu da festa com sete Astronautas (o troféu deles), a afirmação soa injusta. Mas ele não está totalmente errado.

Toda a estética da premiação seguiu os parâmetros do rap, hip hop e r&b. A impressão que dava é que realmente o black power tomara o poder na emissora. O apresentador foi o rapper de muitos nomes - Sean Combs/Puff Daddy/P.Diddy/ Diddy -, os números musicais na maioria eram de rappers e as personalidades focalizadas na platéia eram majoritariamente negras.

A poderosa posição dos negros americanos na indústria, em função das vendas milionárias, parecia até ser uma realidade a contradizer a cultura racial do país.

Mas nas duas categorias mais fortes da noite deu branco. Mais precisamente o Green Day, vencedor da escolha da audiência com "American idiot" e de vídeo do ano com "Boulevard of broken dreams". Nestas duas categorias concorreram os negros Snoop Dog (em ambas) e Kanye West, na segunda por "Jesus walks", vencedor na estranha categoria de melhor clipe por artista masculino.

Nem tudo estava perdido para o rock no careta VMA

Além de levar os prêmios principais, o rock não esteve tão mal representado assim nos shows. O Green Day fez uma empolgante abertura com "Boulevard of broken dreams", o Coldplay soltou sua elegância um tanto gélida com "Speed of sound", e duas bandas novas brilharam com a característica comum de vocalistas com visual um tanto ou quanto glitter, o Killers e o Chemical Romance, o primeiro bem melhor que o segundo.

O Killers ganhou o prêmio de revelação, enquanto o Chemical perdeu nas categorias rock e escolha da audiência. A "rapperziada" mandou bem nos números musicais com os exageros habituais. Ludacris fez uma volta ao mundo com dançarinos de várias culturas, teve até um arremedo de passistas brasileiras e samba reggae, com bandeiras brasileiras acenadas e tudo. Kanye West trocou rimas com o ator Jammie Foxx, vencedor do Oscar por Ray. Se apresentaram, ainda, 50 Cent, Mario, MC Hammer, R. Kelly (longo e arrastado, o pior da noite).

Os números musicais tiveram também a musicalmente insossa Mariah Carrey, exibindo generosamente o silicone e as belas pernas, o vulcão Shakira com o palha Alejandro Sanz e a jovenzinha Kelly Clarkson, egressa do American Idol, vencedora de dois astronautas por "Since u been gone".

Kelly merecia também o prêmio de "deslumbrada da noite", reação compreensível porque a menina parece estar mesmo vivendo um sonho, do nada aos píncaros do sucesso sem a ralação que muita gente boa passou. Ela ainda teve a honra de fechar a noite, metendo-se no meio dos fãs da sessão do gargarejo e tomando a maior chuva.

O tema da noite foi a água, presente em projeções, na apresentação das indicações e até num túnel de acesso ao palco que alguns vencedores, como Billy Joe Armstrong, evitaram com medo de um banho. A festa, sob a égide do furacão Katrina, que passou horas antes, foi correta para os padrões do show business americano. Claro que se esperava mais para o estilo supostamente pouco convencional da MTV.

Na verdade, lá como aqui, a emissora é um bastião da caretice.E mais: a festa premia clipes, não os artistas. Nenhum diretor foi ao microfone. Há clipes melhores do que as músicas que retratam, o que significa que o foco do VMA está todo errado.

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