Numa indústria altamente competitiva como a do entretenimento audiovisual dos Estados Unidos, cabe a cada organização profissional defender os interesses de seus integrantes. Foram-se há muito os anos de artistas, roteiristas e diretores assalariados, trabalhando em regime de exclusividade para este ou aquele estúdio ou rede de TV. Com exceção dos executivos e funcionários de distribuição e marketing, todo mundo é freelancer em Hollywood. A diferença entre um freelancer de US$ 2 mil, US$ 20 mil e US$ 20 milhões depende em parte de quem você é, da carreira que construiu, e em parte da força de seu sindicato.
A cada quatro anos, mais ou menos, os principais sindicatos que sustentam a indústria roteiristas, atores e diretores renegociam seu contrato coletivo com a patronal que representa "as companhias". Tensões, reuniões complicadas e alguns xingamentos são normais e até esperados. Mas desde 1988 não há uma greve na indústria ninguém quer mesmo romper o delicado equilíbrio deste ecossistema completamente darwiniano.
A não ser quando "Todas as greves coincidiram com grandes avanços tecnológicos da indústria", diz Deborah Blum, roteirista e diretora de um documentário sobre as greves dos roteiristas. "Estamos no meio de uma tremenda evolução, com a importância cada vez maior da internet."
Novas tecnologias
De fato, as greves de roteiristas de 1985 e 1988 tinham como ponto chave a participação na novidade da época, o DVD. Hoje, o mesmo DVD continua sendo um pomo da discórdia os roteiristas recebem US$ 0,04 por cada DVD vendido que contenha um trabalho seu, mas querem subir esse "ganho residual" para US$ 0,08. As "companhias" não cedem, alegando que distribuir e divulgar um DVD está cada vez mais caro.
Entretanto, no último domingo (4) à noite o sindicato dos roteiristas, o Writers Guild of América, já tinha até desistido dos quatro centavos a mais. Só não abria mão da nova plataforma: a internet, os celulares e os "telefones inteligentes", a meio caminho entre telefone e computador. "Esse é o nosso futuro", diz Blum. E "as companhias" não querem nem ouvir falar em pagar residuais aos roteiristas por uso ou download de suas obras. Alegam que a tecnologia "ainda é muito nova" e que, de todo modo, o uso dessas plataformas é "promocional".
Foi aí que os roteiristas resolveram entrar em greve. Em 1988 a paralisação durou 22 semanas, diminuiu em 9% o público televisivo (um impacto que demorou quase uma década para ser remediado), afetou a produção de vários filmes e custou cerca de US$ 500 milhões à indústria. Uma mesma greve, pelo mesmo período, hoje, levaria a perdas da ordem de US$ 1 bilhão.
Em junho de 2008, a Screen Actors Guild, sindicato dos atores de Hollywood, tem que renegociar seu contrato coletivo com os estúdios. A pauta de negociações é a mesma: DVD, novas tecnologias. Será que as companhias vão aceitar as exigências da classe? Uma greve dos atores poderia significar um apocalipse na indústria.
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