Se você gosta de sangue e tem três horas para perder, "Grindhouse" (veja trailer) é o seu filme. Trata-se de uma homenagem épica aos filmes kitsch dos anos 70 feita pelos dois amigos de longa data Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, que escreveram e dirigiram dois filmes distintos e pediram aos colegas que colaborassem fazendo trailers falsos para colocar entre os dois.
O nome vem do fato de que os cinemas costumavam juntar sem muita inspiração dois ou três filmes de terror, filmes de kung fu mal dublados, chanchadas com cenas eróticas o tipo de cinema barato que Rodriguez e Tarantino cresceram amando e desde então fizeram toda uma carreira imitando.
Quer você goste ou não desse sabor específico de queijo, e muitos aficcionados por cinema gostam, vale à pena assiti-lo simplesmente porque não há nada parecido com isso. Não é apenas um filme, é um evento, que demanda atenção e perseverança. Você não pode levantar e ir ao banheiro ou pegar um refrigerante entre um filme e outro. Você também não iria querer se levantar de qualquer forma os maiores atrativos estão nos detalhes, nos trailers, nas inserções arranhadas com sua estética datada e som chiado.
Independentemente disso tudo, "Grindhouse" o leva a um outro lugar e outro tempo. Rodriguez e Tarantino ainda precisam criar um filme verdadeiramente original, mas eles são mestres em recriar gêneros. E após terem empreendido por esse território incontáveis vezes entre a trilogia "O mariachi", "Pulp fiction" e os "Kill Bill", "Grindhouse" representa a força formidável de suas habilidades e conhecimentos combinados.O filme começa com grande impacto com o segmento de Rodriguez, "Planeta terror", sobre uma praga que se espalha por uma cidade do Texas, transformando as pessoas em predadores zumbis de caras esburacadas e espirrando sangue.
Marley Shelton e Josh Brolin (cujos rostos enrugados são perfeitos para a época) interpretam marido e mulher médicos que tentam combater a infecção em um hospital, enquanto pouco se importam em salvar seu casamento. Enquanto isso, um grupo de civis armados tenta recuperar a cidade, liderados por Freddy Rodriguez como um fora-da-lei conhecido como El Wray, e Rose McGowan como uma go-go dancer chamada Cherry Darling, que perde uma perna e ganha uma metralhadora no lugar. (A figura dramaticamente sexy de McGowan é ideal aqui; ela é uma garota que sabe que é linda mas tem senso de humor suficiente para brincar com a própria imagem.)
"Planeta terror" é um sucesso total, engraçado e além das expectativas. As cenas intencionalmente descartadas e os rolos supostamente desaparecidos contribuem com um charme autêntico como se estivéssemos de fato assistindo a um filme que conseguiu sobreviver a ser transportado de cidade em cidade e desenrolado incontáveis vezes.
Então vem a parte de Tarantino, "À prova de morte". E é aquela sua verborragia tão típica, que quase mata todo o entusiasmo que havia sido construído nas últimas duas horas. Kurt Russel cozinha o perigo como um vagabundo grisalho chamado Stuntman Mike, que gosta de perseguir mulheres com seu carro esporte. (Russell, veterano de alguns filmes de John Carpenter como "Fuga de Nova York" e "A coisa", também emana a vibração certa para o filme.) Entre suas vítimas estão McGowan (de novo), Rosario Dawson, Tracie Thoms, Mary Elizabeth Winstead e a dublê na vida real Zoe Bell, que é uma verdadeira espécime a ser examinada.
Mas suas primeiras vítimas em potencial falam. E falam e falam. O que Tarantino tenta fazer é nos acalmar nos colocar numa zona de conforto com essas mulheres através do ritmo de suas discussões sobre sexo e romance apenas para nos arrebatar no clímax com uma cena espetacular de perseguição de carro, que é uma maravilha de direção e de timing.
Mas até lá o filme acaba sendo apenas uma grande chatice uma infeliz seqüência sem entusiasmo depois de um começo tão excitante.
Ainda assim, "Grindhouse" é um filme obrigatório. Mesmo que seja para dizer que você conseguiu sobreviver a ele.
Ainda não há data prevista para a estréia no Brasil.
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