
A semana de carnaval terá no Paraná e em Santa Catarina o encontro de dois grupos musicais amadores, vindos de contextos bem diferentes. Desde o fim de semana, o Brasil recebe a visita de um coral e orquestra de Hamburgo, na Alemanha, formado por 104 pessoas, das quais 90% são "leigas" termo usado pelos alemães para designar pessoas que praticam, mas não vivem da música.
As apresentações brasileiras da Orquestra de Câmera St. Pauli e do coro Friedenskirche, patrocinadas pelo Goethe Institut e outras entidades dentro das programações do ano da Alemanha no Brasil, começaram na segunda-feira, em Morretes, e terminam semana que vem, em Florianópolis (SC).
Curitiba terá apresentações nesta sexta-feira e sábado. Na sexta, os alemães tocam e cantam na igreja luterana Comunidade do Redentor, ao lado de 60 crianças de um projeto social que oferece, entre outras atividades, aulas de canto coral e flauta doce em Almirante Tamandaré o Música nos Bairros, do Projeto Dorcas.
No repertório, um intercâmbio linguístico: todos cantam juntos "Jesus, Alegria dos Homens", de Bach, em alemão, e "O Som da Pessoa", de Gilberto Gil, em português. Sozinhas, as crianças apresentam pérolas brasileiras, como "O Trenzinho do Caipira", de Villa-Lobos, além de uma surpresa folclórica e uma bênção. Os alemães tocam ainda duas músicas de Brahms sozinhos.
"Escolhemos as músicas ao longo de muitas horas ao telefone e montes de e-mails trocados até chegar a canções que fossem realizáveis", brinca o regente Fernando Swiech, brasileiro que está há 13 anos na Alemanha e comanda os dois grupos em Hamburgo. "O trabalho do Música nos Bairros é muito sério e de alta qualidade musical", elogia.
Brahms
No sábado, a Catedral de Curitiba abriga uma mostra do trabalho dos alemães, com o Réquiem Alemão (Opus 45), de Johannes Brahms (1833-1897). A opção pela peça de 70 minutos, já apresentada por nossa Camerata em versão para piano e coral, tem um lado emocional: o compositor viveu no bairro onde fica a igreja patrona do grupo musical, St.Pauli, em Hamburgo.
"É um réquiem muito executado na Alemanha, tanto quanto o Oratório de Natal de Bach", explica Swiech. Os solistas serão Marlen Korf, soprano, e o brasileiro Ronaldo Steiner, barítono nessa obra em sete movimentos.
Iniciativa
Projeto abrange de problemas de fala a menino-prodígio
Adriano Silva Trarbach, de 12 anos, é uma das crianças cuja vida mudou após conhecer a música no bairro Bonfim, em Almirante Tamandaré. Dedicado e com jeito para as breves e semibreves, ele logo se destacou nas aulas de canto coral e flauta doce promovidas por professores da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). "Já no começo o chamamos de papa-partitura: ele não podia ouvir uma música que saía buscando quem tinha a pauta para ele poder estudar", relembra Renate Weiland, diretora musical do Projeto Dorcas, onde se desenvolve o Música nos Bairros, há quatro anos.
Adriano participou em janeiro da oficina de flauta com um professor argentino e chegou a se apresentar em um dueto. Durante o evento, ele se encantou com o violoncelo e recebeu um instrumento como doação anônima seu novo projeto de vida, para o qual dedica-se no curso de formação musical da Embap, que dura três anos.
Como ele, outras três crianças foram admitidas no curso mas somente ele e um colega permaneceram.
"Há crianças que atendemos que não sabem nem falar, com graves problemas fonoaudiológicos. E o canto coral está ajudando muito. Por outro lado, há outras com timbres super agudos, que poderiam solar em grandes concertos", sonha Renate.




