Militância artística
O filho único do maestro Antônio Lago, Mário formou-se em Direito, mas exerceu por poucos meses a profissão. O interesse intelectual estava mais voltado à política militou pelo Partido Comunista e às artes. A estréia nas artes cênicas aconteceu aos 22 anos, como ator, compositor e autor do teatro brasileiro de revista. A música nacional recebeu dele centenas de canções e a contribuição essencial durante os períodos de censura. No fim dos anos 60, Mário Lago entrou para a TV Globo. Seu último papel foi o Dr. Molina de O Clone, personagem que vivera pela primeira vez na novela Barriga de Aluguel.
Mário Lago foi o boêmio freqüentador dos cafés do Rio de Janeiro. Começou nas rádio-novelas e interpretou mais de 70 personagens na teledramaturgia. Compositor de sambas famosos como "Ai, que Saudades da Amélia" e "Aurora". Escritor de prosa e poesia. Militante político na Era Vargas e durante a ditadura militar, seis vezes preso. Todos esses papéis vividos intensamente pelo mesmo homem ao longo de quase um século são rememorados no musical Ai, Que Saudades do Lago!, que o Núcleo Informal de Teatro apresenta hoje e amanhã, no Guairinha, dentro da Mostra Oficial do Festival de Teatro de Curitiba.
Em cena, Cláudia Ventura, Marcos França e Alexandre Dantas apresentam para o público quem foi o artista brasileiro de múltiplos talentos, nascido na capital carioca, em 1911. "Mário Lago era um homem fascinante e muito ligado ao seu tempo. Ele trafegou em vários cenários da vida social, artística e política do país. A vida dele é quase um retrato do século 20", define a diretora Joana Libreiro.
O musical é a segunda empreitada do Núcleo Informal pelo gênero. A primeira, A Noite É uma Criança, sobre Antônio Maria, fez com que o grupo descobrisse o gosto pelos musicais. A idéia de dedicar o próximo espetáculo a Lago foi de Marcos França, amigo do filho do homenageado, Mariozinho Lago. Ai, Que Saudades do Lago! estreou em 2006 no Rio de Janeiro e permaneceu em cartaz na cidade por um ano. A montagem é resultado das informações biográficas que França encontrou nos livros escritos por Lago, nas fotos antigas e arquivos da família. "Não foi fácil condensar 90 anos de vida em uma hora e meia de espetáculo", comenta o autor.
A memória do senhor magro e grisalho, ainda muito presente na imaginação do público e do próprio elenco, impediu o grupo de levar ao palco um personagem caricato. "Imitar o Mário Lago seria para a gente quase uma heresia. Fazemos a referência sem copiar os trejeitos ou a voz dele. Fugimos da idéia de ter um protagonista, são três atores brincando de ser Mário Lago", diz França.
O jogo narrativo é estabelecido por introduções e cenas em primeira pessoa, poemas e músicas. "O texto é narrativo na maioria das vezes. Tivemos a preocupação de quebrar a quarta parede e aproximar o espectador, fazer quase em um bate-papo. A gente prezou pela informalidade e pela simplicidade, sem os arroubos de um musical nos moldes da Broadway, sem coreografia ou dança. É uma conversa com a platéia", explica o autor.
Foram escolhidas 16 canções entre as mais famosas de Lago, que receberam novos arranjos, criados pelo diretor musical Fábio Nin. A surpresa é a descoberta de uma música inédita, "Presença", que o compositor fez para a esposa Zeli. "Cláudia Ventura canta essa música em um solo, é o grande momento do espetáculo", diz Lebreiro.
O número faz parte das lembranças do casamento de Mário Lago. A adolescência; a relação com a mãe; os bordéis, nos quais viveu a primeira paixão pela prostituta Dolores e a primeira decepção amorosa; as rádios e as fãs que só conheciam a voz dos artistas; a censura e a ditadura se sucedem em cena, ilustradas por fotografias da cidade e de Lago. Até uma rádio-novela escrita pelo artista é recriada o melodrama Presídio de Mulheres, transmitido pela Rádio Nacional na década de 1950. (LR)
Serviço: Ai, Que Saudades do Lago!. Guairinha (Rua XV de Novembro, s/n.º), (41) 3322-2628. Hoje e amanhã, às 20h30. Ingressoas a R$ 26 e R$ 13 (meia-entrada).
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