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Henrique Saidel, Léo Glück e Giórgia Conceição, da Silenciosa | Alessandra Haro/ Divulgação
Henrique Saidel, Léo Glück e Giórgia Conceição, da Silenciosa| Foto: Alessandra Haro/ Divulgação

Como funciona

Três companhias curitibanas foram selecionadas para o 1º Rumos Teatro. Saiba mais sobre o programa do Instituto Itaú Cultural

Dois em um

A proposta do edital é promover o intercâmbio entre dois grupos teatrais de origens distintas, incluindo todas as regiões do país. Nesta primeira edição, foram inscritos 165 projetos (por 330 grupos, organizados em duplas). Pretendia-se eleger dez, mas a qualidade e a variedade convenceu o instituto a apoiar 12 deles.

Passagens

Cada grupo selecionado vai receber entre R$ 56 mil e R$ 88 mil, de acordo com os custos de passagens aéreas, para pesquisa e encontros (no mínimo, dois presenciais).

Fim

O resultado dos encontros será apresentado na mostra do Itaú Cultural, no segundo semestre de 2011. Não há regra quanto ao formato final, pode ser uma montagem, mas também um texto ou debate, respeitando as características de cada pesquisa. Até lá, as duplas devem manter no ar um blog do processo criativo, ao menos por seis meses.

Parcerias

Caixa do Elefante (RS) e Grupo Pequod (RJ); Núcleo Argonautas (SP) e CiaSenhas (PR); Celeiro das Antas (DF) e Teatro Experimental da Alta Floresta (MT); Cia. Silenciosa (PR) e ERRO Grupo (SC); Cia. Teatro Autônomo (RJ) e Os Irmãos Guimarães (DF); OPOVOEMPÉ (SP) e Lume (SP); Espanca! (MG) e Cia. Brasileira de Teatro (PR); Bagaceira de Teatro (CE) e Coletivo Angu de Teatro (PE); Cia. dos Atores (RJ) e Os Fofos Encenam (SP); Clowns de Shakespeare (RN) e Ói Nóis Aqui Traveiz (RS); Será o Benedito? (RJ) e O Imaginário (RO); Teatro do Concreto (DF) e Magiluth (PE).

  • Luiz Bertazzo na performance que inspirou a parceria da CiaSenhas
  • Espanca! e Cia. Brasileira se encontraram no ACTO 2, em Belo Horizonte

Um grupo de teatro do Rio Grande do Norte e outro do Rio Grande do Sul marcam dois encontros, tendo o compromisso de apresentar, ao fim de alguns meses de pesquisa, os resultados criativos do jeito que preferirem: performance, cena, texto, debate, tanto faz. Aproximar dessa maneira livre artistas de cantos distintos do país, provocando-os a trocar experiências, é a ideia condutora do 1.º Rumos Teatro, promovido pelo Itaú Cultural.

Alguns encontros não exigirão viagens tão longas quanto a dos potiguares do Clowns de Shakes­peare até os gaúchos do Ói Nóis Aqui Traveiz. É o caso da promissora ponte aérea entre a Cia. dos Atores, carioca, e Os Fofos Ence­nam, paulistas. Rio de Janeiro e São Paulo, aliás, são campeões entre os 24 selecionados: foram quatro grupos de cada estado (leia mais no quadro abaixo).

O Paraná ficou logo atrás, com três eleitos. A CiaSenhas vai a São Paulo trabalhar com o Núcleo Argonautas. A Silenciosa fica por perto, numa parceria com o grupo catarinense ERRO. E a Cia. Brasileira de Teatro retorna a Belo Horizonte para criar com o Espanca!.

Visitantes

A Silenciosa e o ERRO se conheceram nos chafarizes da cidade, durante o Festival de Curitiba, em 2003, quando a companhia curitibana apresentava a performance Aqui Você Verá. Meses depois, foi a vez de repetir a ação num chafariz do centro de Florianópolis, com a participação do grupo da casa. Desde lá, os artistas dialogam sobre interesses em comum, sobretudo o modo como não distinguem a postura estética da política.

Essa linha de raciocínio se aplica a tornar o espaço público "realmente público", para que "as pessoas interajam de forma criativa, saindo do contexto pré-programado de ações comuns", diz Giórgia Conceição, atriz e uma das diretoras da Silenciosa. "A cidade não está acostumada com um fluxo diferente do comum. Isso é estético e político."

Com o projeto "Salsichão no Boqueirão/Tainha na Prainha", aprovado pelo Rumos, querem cartografar espaços das duas capitais, registrando o que lá acontece, para pensar a presença cênica, mas também a mediação dessa presença pela tecnologia.

Nas primeiras viagens que planejam, o grupo visitante vai receber do outro um roteiro de lugares a percorrer e ações a realizar. Não necessariamente o Boqueirão – o "turismo gastronômico" do título é uma piada, com alguma ironia antropofágica –, mas regiões além do centro. O público primordial será o do próprio local, de preferência sem aviso. Também estudam a possibilidade de transmitir as ações a outros, estes, sim, alertados.

Pacotes

O Espanca! e a Cia. Brasileira de Teatro combinaram trocar pacotes. Literalmente. "Vamos criar uma correspondência material e enviar pelo correio, qualquer coisa que tenha um sentido de provocação. O outro grupo terá um tempo para dar uma resposta criativa, com uma cena ou texto ou vídeo", explica o diretor Márcio Abreu, da Brasileira.

O projeto, batizado de "Um Ou­­­tro Si Mesmo – Troca de Pacotes", consolida uma aproximação entre o grupo mineiro e o curitibano que já vem de alguns anos. Em 2007, os dois se uniram ao XIX, de São Pau­­lo, para um intercâmbio artístico no ACTO 1, em Belo Horizonte. No mês passado, repetiram o feito, no ACTO 2.

"Tanto o Espanca! quanto nós colocamos o desafio do teatro no campo da dramaturgia: o que dizer, como dizer e a quem dizer", diz Abreu, justificando a afinidade. Está nos planos dos grupos tentar aproveitar um dos encontros para, além de desenvolver as criações motivadas pela correspondência, trazer a Curitiba o espetáculo Marcha para Zenturo, parceria dos mineiros com o XIX inédita por aqui.

Ficção

A aproximação da CiaSenhas com o Núcleo Argonauta, por sua vez, se deu por uma coincidência de planos. Em Curitiba, a primeira buscava notícias de jornal pensando em ficcionalizá-las para "chegar mais próximo da verdade". Criou, assim, a performance e o espetáculo Homem Piano, pelo projeto Narrativas Urbanas. Em São Paulo, o Núcleo Argonautas vasculhava documentos de arquivos públicos para um projeto semelhante, o Terra Sem Lei, que ocupou escadarias e restaurantes.

Os grupos propuseram ao Ru­­­mos juntar pesquisas. "O foco, tan­­­to dos Argonautas quanto nosso, é a dimensão da narrativa: no corpo, no espaço e no texto", diz Suely Araújo, diretora da CiaSe­nhas.

Depois de notícias e documentos, as companhias agora pensam que matéria tomarão como ponto de partida para explorar o espaço público. Planejam uma oficina de performance e devem levar adiante o interesse mútuo pelas relações humanas mais íntimas, investigando a dificuldade de se confiar no outro.

No segundo semestre de 2011, quando forem apresentar os resultados ao Itaú Cultural, Argonautas e CiaSenhas pretendem mostrar a pesquisa no estágio em que estiver."Isso nos desafoga do compromisso de um produto", diz Suely. "A proposta do Rumos é esse grande laboratório de avanço na própria poética", sintetiza.

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