Em razão de várias semelhanças com a realidade, “O Grifo de Abdera” tem sido classificado como autoficção. Você concorda com a definição?

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Autoficção não é o rótulo de que eu mais gosto. Acho que autorrealismo fantástico tem mais a ver. Minha literatura tem muito de alterar a realidade de maneira fantástica. Tudo é tão misturado para mim que eu tenho lembrança de coisas que estão no livro, mas não aconteceram.

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O livro pega pesado com o mercado literário, tanto com os autores quanto com as editoras. É um meio que se leva muito a sério?

A literatura tem uma pompa em volta de pessoas que não sobrevivem às custas do próprio trabalho, que ganham uma merreca por aquilo que produzem. O romance tem essa crítica. Mas o meio literário é muito divertido. Quando você junta escritores, todo mundo bebe e ninguém fala de trabalho. Muito diferente dos quadrinhos, em que os autores falam disso da hora que acordam até irem dormir.

Você tem sido muito elogiado como ator pelo papel em “Que Horas Ela Volta?”. Como foi essa experiência?

Gostei muito de trabalhar com a Anna Muylaert (diretora do filme) porque ela fala: “Não quero uma palavra do roteiro na sua boca”. Eu recrio os textos e ela vibra. Esse foi um papel em que eu recuperei o prazer da brincadeira. Também fiz “Escaravelho do Diabo”, do Carlos Milani, porque não podia recusar um convite para ser um serial killer [o filme estreia em janeiro].