Cia. Atores de Laura em Absurdo: texto pouco instigante e uso de modelos conhecidos| Foto: Daniel Isolani/Divulgação

Embora a desolação e a incomunicabilidade humana sejam aspectos comuns do que se convencionou chamar teatro do absurdo, há entre os autores abarcados por essa definição distinções evidentes, tanto que se resiste a considerar o absurdo um gênero teatral – é, antes, um aglomerado de formas distintas a subverter a lógica cartesiana e o sentido na metade do século 20. Samuel Beckett (1906-1989) foi mais longe na radicalização do trato com a linguagem e do esvaziamento dos sentidos. Eugéne Ionesco (1909-1994) criou um teatro de pinceladas surreais, no qual o desgaste da linguagem se mostra em seu girar em falso, produzindo efeitos de ironia e humor.

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É neste segundo modelo que se apoia o texto de Absurdo, espetáculo apresentado pelos Atores de Laura no Festival de Curitiba. Décadas distante do tempo em que trazia inovações formais, o absurdo conforme reeditado pela companhia carioca, aos moldes de A Cantora Careca, já não se mostra capaz de lançar um olhar descondicionado sobre a realidade – ou sobre o modo como nos acostumamos a percebê-la –, sobretudo no que diz respeito às relações amorosas e familiares, perdendo assim seu potencial questionador. O que deveria parecer inusitado soa como uma sucessão de pilhérias eventualmente divertidas, porém inofensivas e com sabor de algo já provado.

A obra encontra seu ápice nas poucas passagens que despertam uma lucidez inédita sobre aspectos do cotidiano assimilados automaticamente, como o uso da linguagem nas placas de elevadores e escadas de incêndio. Em compensação, grande parte dos entortamentos da lógica apresentados em cena toma o caminho de uma comicidade óbvia e de fruição ligeira. O cenário é exemplar disso. Rodeado de portas abertas enquanto os personagens se sentem presos ao interior do apartamento, incapazes de enfrentar o mundo lá fora, é uma sombra do que Luís Buñuel (1900-1983) fez com semelhante situação em O Anjo Exterminador (1962).

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Além disso, a confiança no humor como chave da relação com a plateia torna-se uma armadilha na medida em que o riso por vezes já se dá em cena, por parte dos personagens, tomando o espaço de o espectador fazer suas próprias conexões e encontrar a graça.

Em meio a uma programação prolífera em trabalhos de grupos que tensionam a linguagem teatral ampliando as potencialidades do teatro, como tem sido em parte a deste Festival de Curitiba, os bons atores da Cia. Atores de Laura submergem no trato com um texto pouco instigante sem explorar além de modelos conhecidos. Fica a expectativa por vê-los manejar a matéria mais sofisticada dos livros Um Erro Emocional e Beatriz, de Cristóvão Tezza, sobre a qual o diretor Daniel Herz pretende edificar seu próximo espetáculo.