Acústica
Grandes ambientes, dificuldades complexas
De acordo com Vicente Roberto Tumke, professor de Acústica da Faculdade de Belas Artes do Paraná, a acústica de ambientes grandes envolve uma série de fatores e não é "empírica", como um cálculo matemático.
"Não é algo definido, não é como fazer o cálculo de uma viga ou laje. É algo bastante complexo, uma mistura de arte, ciência e tecnologia", diz o professor.
O chamado som "abafado", que dificulta a audição, pode ser, por exemplo, um problema de amortecimento, superposição de sons, má colocação de autofalante, uma porta aberta uma simples falha no microfone. O professor ainda destaca, como características positivas do Teatro Positivo, a ausência de superfícies côncavas (que concentram o som) e elementos dispersores (cadeiras vazadas).
Uma possível saída para evitar problemas sonoros seria, segundo Tumke, aplicar uma configuração variável, que adeque o teatro a cada espetáculo. "A Sala São Paulo, por exemplo, tem o teto retrátil e pode mudar o revestimento de suas paredes".
O professor ainda cita o exemplo do Lincoln Center, em Nova York. "Mesmo tendo o melhor profissional [o norte-americano Leo Beranek, referência em acústica], o som só esteve perfeitamente ajustado 14 anos depois de sua construção". (CC)
Inaugurado em 29 de março de 2008, com a apresentação do tenor espanhol José Carreras, acompanhado da Orquestra Sinfônica do Paraná, o Teatro Positivo Grande Auditório tornou-se o maior espaço privado para espetáculos do Paraná e um dos maiores do país. Desafogou a agenda do Teatro Guaíra e facilitou a vinda de grandes shows e concertos, que poderiam não desembarcar por aqui por falta de um local adequado.
Mais de um ano depois, a acústica do espaço que demorou sete meses para ficar pronto e consumiu R$ 55 milhões foi colocada em questão por alguns dos espectadores que já ocuparam alguma vez um dos 2,4 mil assentos disponíveis.
"A qualidade do som estava horrível. Eu não entendia o que eles falavam", diz o analista de sistemas Leonardo Saraiva, que acompanhou o espetáculo Terça Insana 3 e 4 de abril deste ano. Saraiva estava do lado direito do palco, na penúltima fileira. O curitibano, entretanto, também acompanhou o show de Ney Matogrosso, no mesmo teatro, e diz "não ter do que reclamar".
A psicóloga Sílvia Rocha estava na plateia durante a peça Hamlet, de Willian Shakeaspere e estrelada por Wagner Moura, que esteve em cartaz nos dias 18 e 19 de julho deste ano. "Ficamos um pouco afastados do palco e perdemos muito. Não conseguíamos ouvir os diálogos e, quando ouvíamos, o som não estava audível", relata. Sílvia já havia ido três vezes ao Teatro Positivo para eventos profissionais e, nestes, todavia, não constatou problemas.
A matogrossense Vanessa da Mata se apresentou no espaço projetado pelo arquiteto Manoel Coelho no último dia 16 de setembro. A cantora queria se aproximar mais do público que a ovacionava, mas era impedida por uma microfonia insistente, mencionada por ela mesma durante o show.
Outro lado
Segundo Marcelo Franco, diretor executivo do Teatro Positivo, "nem todos os eventos ocorridos no espaço utilizam todo o equipamento de som disponível". Isso seria, portanto, uma opção do produtor do espetáculo, conforme as exigências técnicas de cada apresentação. Franco esclarece ainda que, "sem exceção, os equipamentos de palco são sempre trazidos pelo produtor, pois o ryder técnico do teatro não contempla esse tipo de aparelhagem porque é necessário um material específico para cada tipo de espetáculo".
Em relação às possíveis diferenças de recepção sonora de acordo com a posição dos espectadores primeiras e últimas fileiras e à flexibilidade para receber diversos tipos de evento, o executivo diz que "a estrutura física oferecida pelo Teatro Positivo possibilita ao público, de uma forma geral, da primeira à última poltrona, uma excelente qualidade de som e acústica e atende a qualquer característica de espetáculo".
Verinha Walflor, produtora responsável pela vinda de Vanessa da Mata à Curitiba, explica que a microfonia ouvida em alguns momentos foi devido à não-obediência da marcação de palco por parte da cantora.
"Não tem a ver com a acústica do teatro, que é ótima. O palco foi preparado, uma geografia em cima dele foi estipulada, para ela caminhar para lá e para cá. Ela saiu da marcação estabelecida, e por isso houve o problema. Mas isso poderia acontecer com qualquer um que desobedecesse o que foi determinado", diz a produtora. O equipamento de som para aquele show foi locado pela produção nacional do show junto à empresa catarinense Cotempo. Verinha ainda esclarece que um som perfeito envolve questões outras, além do aparato técnico ou da estrutura física do teatro. "É tudo questão de equalização, mas também de o artista chegar cedo para passar ensaiar, testar e passar o som", finaliza.
O pianista Álvaro Siviero acompanhou o concerto da Orquestra Filarmônica de Israel, no dia 17 de agosto. Para o músico, o "som jorrava maravilhoso". A ressalva de Siviero é em relação à quantidade de pessoas presentes. "Havia pouca gente, isso pode ter influenciado. Mas eu estava numa posição frontal e o som estava perfeito", conta.
O pianista também já se apresentou no palco do Teatro Positivo como solista da London Orchestra, no dia 7 de junho. "Em outros palcos, ouço excessivamente os violinos e as cordas. Mas lá, tinha a impressão de que tudo estava coeso, como se fosse uma coisa só".
A reportagem tentou contato com a produção da peça Hamlet e do show Terça Insana, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
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Interatividade
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