Espetáculo
Hamlet
Festival de Teatro de Curitiba. Teatro Bom Jesus (R. Vinte e Quatro de Maio, 135), (41) 3310-3000. Dias 29 e 30 de março, às 21 horas. R$ 60 e R$ 30 (meia-entrada, inclusive para assinantes da Gazeta do Povo).
A experimentação combina com o grupo potiguar Clowns de Shakespeare, que busca novos diretores a cada montagem. Em Hamlet, que o coletivo traz ao Festival de Teatro de Curitiba nos dias 29 e 30 de março, eles se renovam ao adaptar uma tragédia como tragédia já que Sua Incelença, Ricardo III, apresentada no Largo da Ordem em 2011, foi transformado num plástico carnaval pelas mãos de Gabriel Villela.
Saindo da zona de conforto, o grupo afeito à comédia responde agora ao paulista Marcio Aurélio, conhecido por sua economia de símbolos e movimentos (mostrado em peças como Hamletmachine, solo com Marilena Ansaldi, de 1987, e Agreste, de Newton Moreno, de 2004).
"Nossa história é ligada ao teatro popular, mais solar, algo que o encontro com Gabriel potencializou. Com Marcio, partimos do desejo de experimentar um teatro mais preciso", contou à reportagem o diretor do grupo, Fernando Yamamoto.
Revelação
Foi também em clima de experimento, que a atriz do grupo Clowns de Shakespeare Titina Medeiros, que interpreta Ofélia em Hamlet, participou da novela Cheias de Charme em 2012, como a exuberante Socorro. A atriz foi descoberta por olheiros da Rede Globo na estreia de Sua Incelença... em Curitiba, quando três integrantes do grupo foram chamados para testes na emissora.
Escolhida para viver a "personal curica" de Chayene, ela se tornou destaque no folhetim capitaneado por Cláudia Abreu, sendo inclusive eleita atriz revelação na premiação Melhores do Ano, do programa Domingão do Faustão. "Já voltei a Natal e mergulhei no Hamlet, que tem sido uma peça da qual gostamos muito", contou a atriz à Gazeta do Povo.
Vivendo Ofélia, a namorada do príncipe dinamarquês que enlouquece em meio aos planos de vingança do atormentado Hamlet, Titina diz ter realizado algo que sempre quis fazer. "Enxergo Ofélia muito à frente do seu tempo, com coragens absurdas. Não é à toa que Hamlet tem interesse nela. Ele precisava de uma companheira que tivesse essa visão de um novo mundo. Mas ela não segura a onda", conta, referindo-se ao suicídio da personagem.
Loucura
Para dar um norte à sua montagem, Marcio Aurelio propôs enxergar a loucura de Hamlet como uma voz solitária de sensatez em meio à sandice daquele mundo em transição, quando resquícios do medievo conviviam com lampejos do Renascimento.
"A peça brinca com o que é representar", explica Fernando. Ele conta ainda que momentos de tensão da peça shakespeariana foram lidos como "encontros espelhados": o confronto entre Hamlet e Laertes (irmão de Ofélia, com quem o príncipe duela ao final); o Rei Hamlet e seu irmão Cláudio, entre outros.
"São formas diferentes de dizer a mesma coisa", aponta Fernando.
Na cenografia, além da limpeza característica das montagens de Marcio Aurélio, há soluções calcadas em elementos rudimentares que também explicitam o grande jogo que é o teatro.
É o caso de um andaime usado pela equipe técnica que acabou entrando para o cenário assim como os próprios técnicos, que figuram em determinados momentos.