A comédia "Um Dia sem Mexicanos", que estréia hoje no Unibanco Arteplex (Shopping Crystal), repete uma característica que vem se tornando constante no gênero nos últimos anos. O espectador acompanha o trailer – geralmente hilário – da produção e vai com toda a esperança à sessão, pensando que irá rir muito durante as quase duas horas tradicionais de projeção. Mas tudo o que havia de realmente engraçado na história estava condensado no filmete de divulgação. A sensação de que venderam gato por lebre é legítima e merecia uma justa reclamação em algum órgão de defesa do consumidor.

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A produção dirigida por Sergio Arau parte de uma ótima premissa, já realizada em um curta-metragem homônimo que o cineasta lançou em 1998: o que aconteceria com a Califórnia se um belo dia todos os seus mexicanos sumissem do mapa? O estado hoje governado pelo "exterminador" Arnold Schwarzenegger estaria literalmente perdido, pois os hispânicos respondem por aqueles serviços do dia-a-dia – primários, braçais e pesados –, que a maioria dos norte-americanos não quer mais fazer: são babás, governantas, cozinheiros, empregados de lava-jatos, de lanchonetes fast-food, etc.

Mas, depois de uns 40 minutos de filme, o que era uma crítica bem esperta e ácida à não-valorização dos latinos, tanto na economia como na sociedade, acaba se tornando uma espécie de dramalhão sem muito sentido. Arau mostra que não tinha idéias ou fôlego para segurar um longa e que deveria mesmo ter deixado a história ficar no formato curto.

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Como antecipa o divertidíssimo trailer, os mexicanos (ou qualquer latino, pois para os americanos eles seriam todos a mesma coisa) desaparecem sem nenhum explicação plausível – e muitas teorias absurdas aparecem. O que se sabe é que o sumiço aconteceu depois que uma estranha nuvem rosada tomou conta da Califórnia.

Em um tom documental, o início da fita mostra "depoimentos" de pessoas que tinham amigos ou empregados chicanos; e o caos estabelecido nas ruas pela falta deles. Aparentemente, só duas latinas não desapareceram: uma menina e a repórter Lila Rodriguez (Yareli Arizmendi, mulher do diretor e co-roterista do filme), que até vira cobaia de estudo do governo – há uma explicação um tanto óbvia para o "mistério". Arau poderia ter sido mais ousado, talvez realizando um híbrido de ficção e documentário – dá até para imaginar o diretor ou alguém de sua equipe perguntando ao governador Schwarzenegger o que seria de sua vida se os mexicanos lhe dissessem "Hasta la vista, baby!".