Herança do Velho Cinema Novo

O primeiro teatro do Paraná foi construído em Morretes. Era uma edificação de madeira, localizada no Largo da Prada e ajeitada às pressas em 1841, por conta das solenidades em honra à coroação de d. Pedro II. Hoje, sua função é ocupada pelo belo Cine Teatro Morretes, restaurado, há três anos, pelo programa Velho Cinema Novo, da gestão anterior do governo estadual.

O espaço é usado para espetáculos de teatro, música e palestras. "Foi realmente um presente. Recebemos uma reforma completa do nosso espaço, com iluminação, sonorização e instalação de ar condicionado. Faltou apenas o projetor", conta o secretário de Cultura e Esportes de Morretes, Rorgério Luiz Tonetti. Ele lamenta que a casa de espetáculos fique freqüentemente ociosa. "Os eventos são muito esporádicos. Não temos condições para manter uma programação fixa de atividades culturais. Por outro lado, muitas pessoas ainda não têm costume de ir ao teatro ou ao cinema", explica.

Dos 399 municípios do Paraná, Morretes está entre os dez que menos dinheiro arrecadam. Os escassos investimentos, explica Tonetti, seguem para as prioridades da gestão (saúde e educação). "A restauração foi ótima. Ficaria ainda melhor se houvesse repasse de equipamentos e filmes", conclui.

O projeto Velho Cinema Novo foi implantado em 2002, último ano do segundo mandato do ex-governador Jaime Lerner, beneficiando 13 municípios. Hoje, os espaços continuam funcionando, com resultados diferenciados, a depender de cada cidade. Maria Luiza Marques, professora do departamento de Arquitetura da UFPR e diretora de Patrimônio do governo estadual à época, explica que a intenção era recuperar as salas e integrá-las em um circuito exibidor.

A idéia surgiu ainda em 1999, quando Marques foi chamada para visitar o Guanabara, um cinema desativado de 1,2 mil lugares, instalado no município de Loanda. "Pude ver como a comunidade tinha uma relação bastante afetiva com o cinema. Os moradores e a classe política evitavam de toda a maneira a destruição daquele espaço, na esperança de que ele fosse recuperado", lembra a pesquisadora. A população chegava a organizar excursões de ônibus para ir ao cinema em outras cidades.

Como um quadro similar se repetia em outros municípios, foi confeccionado o projeto de restauração dos cinemas. As antigas salas seriam transformadas em cine-teatros, espaços para projeção de filmes e encenação de espetáculos cênicos. O programa foi colocado em prática apenas em 2001, quando recebeu aprovação de recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ao todo, foram investidos R$ 23 milhões na recuperação de 13 cinemas do Paraná. Na mesma leva, foram aprovadas, em programas paralelos, as obras no Museu Oscar Niemeyer e a recuperação das estações ferroviárias de Antonina e União da Vitória.

O Velho Cinema Novo previa ainda a instalação de equipamento de projeção compatível com bitolas de 35mm e 16mm. "A única empresa que fazia esse tipo de equipamento era alemã. A licitação teria de ser internacional, passando por um processo gerencial muito complicado", afirma Marques. Com o fim da gestão se aproximando, não houve tempo hábil para a aquisição e implementação da aparelhagem de projeção. Sem ela, foram inauguradas dez salas, quatro no último dia do governo Lerner.

A nova administração estadual recebeu pronto o cine-teatro de Castro e, hoje, trabalha na recuperação do cinema de Ponta Grossa. Já foram iniciadas as obras no Cine Imperial, na Lapa, depois da aquisição do prédio pelo governo estadual, em agosto de 2004, por R$ 200 mil.