• Carregando...
 | Reprodução
| Foto: Reprodução
  • A edição brasileira traz um prólogo sobre a descoberta do poder de parar o tempo, na infância

Definitivamente, Bobby Doyle não é o homem mais rápido do mundo. Mas, para o resto da humanidade, assim parece. Pesa uma ironia trágica sobre o protagonista da premiada HQ O Que Aconteceu ao Homem Mais Rápido do Mundo?. Contra o que sugere o título, reproduzindo a manchete de um tabloide britânico, o tempo é, em última instância, o pior inimigo do herói dessa história, escrita pelo inglês Dave West, com arte de Marleen Lowe.

Bobby tem sim um superpoder, como reza o manual dos heróis. E nem é dos mais incomuns: desde criança, descobriu ser capaz de parar o tempo. Congela o instante para todos ao seu redor, menos ele mesmo. Assim pôde salvar do atropelamento seu cãozinho de estimação, quando pequeno.

Acontece que, ao contrário da elite dos super-heróis, em todo o resto o rapaz é igualzinho ao mais ordinário dos homens. Não tem nenhuma força ou agilidade sobrenatural (é até mirrado), anda com os dois pés no chão ao ritmo de qualquer outro ser humano, não solta raios e nunca foi gênio da computação: ou seja, o contrário de um herói.

Ou esse julgamento não passa de mais uma ilusão, como a que têm os moradores de Londres ao considerá-lo uma espécie de The Flash. Afinal, seu senso de honradez e a disposição para o sacrifício são o que verdadeiramente se poderia entender por heroísmo num mundo real ou ficcional.

Um argumento simples e, de partida, pouco original – uma ameaça de bomba capaz de dizimar a população de Londres –, ganha, pela imaginação de West, solução acachapante. O desenvolvimento da trama não poderia ser mais claro e direto, mas somente aos poucos, quadro a quadro, o leitor se dá conta da gravidade das consequências pessoais trazidas pela ação do protagonista.

Arte

O roteirista teve de procurar quem fizesse as ilustrações, pois seu habitual parceiro, Andy Bloor, estava ocupado desenhando para outro projeto dos dois, The Fall of the Wolfmen. Encontrou nas páginas de Teruo (na antologia Robots), ilustradas por Marleen Lowe, a artista com quem queria trabalhar.

O maior desafio imposto a Marleen foi diferenciar o tempo normal (parado) do tempo de Bobby (em movimento). Ela o resolveu de modo criativo e nítido. Deixou o tempo parado apenas em grafite, como esboço, enquanto o herói ganhou contornos avivados, finalizados com tinta.

Se houver alguma restrição às escolhas dela, seria o uso do traço cartunesco para ilustrar um drama envolvendo decisões tão adultas.

Repercussão

Ao virar a última página de O Que Aconteceu..., fica fácil compreender por que uma publicação independente, feita por uma pequena editora dos Estados Unidos, a Accent UK, mantida pelo próprio autor, causou tamanha repercussão no Reino Unido. Seu maior feito veio na sexta-feira passada, quando recebeu o Eagle Award de melhor graphic novel em preto e branco de 2009, prestigioso prêmio dos quadrinhos ingleses.

Na introdução à edição brasileira, West comenta a ironia de a HQ ter lhe aberto tantas portas, uma vez que seu personagem Bobby Doyle não consegue abril-as quando o tempo está parado. Uma dessas oportunidades inesperadas foi o convite feito pelo editor paulista Maurício Muniz para publicar a história em português, pela Gal Editora, após a leitura de uma das numerosas críticas positivas.

O leitor brasileiro ganhou um bônus: um prólogo curto ("O Mi­­nuto Mais Longo"), criado para a antologia norte-americana Eight AM, indisponível no Reino Unido e editada com a história principal pela primeira vez.

Serviço:

O Que Aconteceu ao Homem Mais Rápido do Mundo?, de Dave West (roteiro) e Marleen Lowe (arte). Gal Editora, 64 págs., R$ 22.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]