O 22º Festival de Curitiba se encerrou no domingo como o mais memorável dos últimos anos. Na reta final, o grande destaque foram os solos que compõem Ficção, espetáculo da Cia. Hiato, de São Paulo. Cada um deles trouxe uma proposição a partir da biografia do ator em cena. No conjunto, emergem questões familiares relativas à culpa, inveja e vontade de aceitação, ao mesmo tempo em que se inverte a noção de ficção como própria do teatro, instaurando o mais próximo do que seria a verdade em cena e apontando para os personagens que assumimos na vida.
A performance de Luciana Paes eleva a proposta à mais alta complexidade e a realiza com precisão e empatia. Também Thiago Amaral, em seu solo, perturba o espectador ao dividir o palco com o pai abordando emoções pesadas de modo lúdico.
Esse tipo de teatro performático, feito a partir da substância viva dos atores, não de fábulas, revelou grande potência também em Vazio É o Que Não Falta, Miranda, apresentado pelo Teatro Inominável no Fringe. O grupo carioca constrói diariamente o espetáculo aberto a absorver os humores do momento e as orientações feitas em cena pelo diretor Diogo Liberano. O vazio, o insignificante e o falho da vida se transformam em linguagem nessa que é uma das propostas mais ousadas vistas neste ano.
Ainda na Mostra 2013, o Luna Lunera contornou problemas técnicos e mostrou a evolução do espetáculo Prazer desde os últimos ensaios em Belo Horizonte. Um trabalho delicado sobre a fragilidade emocional cotidiana, a dificuldade de se permitir ser e sentir prazer. Já a estreia de Horses Hotel frustrou por apresentar cenas ainda pouco elaboradas e não atingir a voltagem emocional e artística de Patti Smith e Robert Mapplethorpe, a quem propõe retratar.
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