História de amor quase impossível

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Tai tem 17 anos. Naim, 20. Ela é judia israelense, filha de uma família de imigrantes franceses. Ele é palestino. Os dois nunca se viram. A garota vive em Jerusalém, a apenas 90 quilômetros de onde Naim mora, em Gaza. Apesar da distância que os separa ser curta, quase insignificante, para que eles possam se ver há muitos obstáculos físicos, políticos e emocionais a serem superados. Ainda assim, eles se apaixonam.

Quando uma bomba explode e deixa um rastro de morte e trauma perto da casa de Tai, ela resolve escrever uma mensagem de desespero, de inconformismo, e a lança ao mar, em uma espécie de libelo arcaico e romântico contra a violência entre israelenses e palestinos, contra esse conflito que ambos, ela e Naim, vivenciam desde sempre, que está no ar o tempo todo.

Naim encontra o desabafo, lê a carta, e dessa conexão improvável brota a história de amor contada pelo tocante Uma Garrafa no Mar de Gaza, que será exibido amanhã, último dia do Festival Varilux de Cinema Francês, em cartaz em Curitiba, no Espaço Itaú de Cinema.

Em entrevista realizada semana passada no Rio de Janeiro, o diretor francês Thierry Binisti, que nunca havia vivido em Israel, mas tem parentes no país do Oriente Médio, contou que a ideia para o roteiro nasceu da necessidade de abordar os reflexos dessa tensão constante nas vidas de judeus e palestinos, algo que se arrasta há décadas e é quase indissociável da vida de quem habita a região.

"Ao optar por contar uma história de amor, de um sentimento que brota da adversidade, da impossibilidade, eu quis, de alguma forma, discutir que as diferenças podem ser bem menos relevantes dos que as semelhanças entre as pessoas. Somos todos humanos. E o amor tem o poder de evidenciar esse fato", disse o diretor.

Para a jovem atriz Agathe Bonitzer, que também veio ao Brasil divulgar o filme, a experiência de filmar em Israel, onde nunca havia estado, e de mergulhar na cultura do país, aprender hebraico e buscar uma compreensão mais profunda do conflito com os árabes não apenas a fez amadurecer como pessoa, mas também a ajudou a descobrir aspectos de seu ofício que ela desconhecia. "Foi um exercício fascinante. Foi incrível ter de viver alguém com uma vida tão diferente da minha, mas com quem eu me identifiquei na sua coragem e no seu inconformismo. Eu também acabei emprestando a ela muitos dos meus conflitos, dos meus questionamentos."

Naim é interpretado pelo jovem ator palestino Mahmud Shalaby.

Lançado em fevereiro na França, Uma Garrafa no Mar de Gaza tem feito uma carreira bem-sucedida nos cinemas do país europeu, mas ainda não foi lançado em Israel, o que deve ocorrer entre outubro e novembro deste ano. Binisti disse que o filme já foi visto por alguns israelenses e palestinos na Europa e a resposta foi positiva, mas como o longa trata de uma questão sensível, a expectativa é grande.