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Quando os quatro atores da peça Línguas Estranhas dizem falas iguais ao mesmo tempo, fazem pensar em quantas pessoas no mundo estarão dizendo aquelas mesmas linhas. No emaranhado de histórias que eles desenrolam uma a uma, o tema principal é o tão batido, mas nunca encerrado, relacionamento amoroso.

No primeiro ato, os casais Leon/Sonja e Pete/Jane trocam de parceiro entre si e acabam em quartos de motel. As conversas são praticamente idênticas, e revelam insatisfação, espectativas frustradas, medo do futuro, falta de comunicação.

A traição leva a um período de separação para ambos os casais, no qual os personagens presenciam fatos que serão encenados no segundo ato. Uma delas é a da psiquiatra Valerie, que atende Sarah, que por sua vez não consegue se manter em relacionamentos. Outros personagens irão mostrar as conseqüências dessa instabilidade.

Em ambos, o palco fica sempre cheio, de pessoas, objetos cores e palavras. Quase o tempo todo, duas ou mais histórias se desenrolam simultaneamente, com falas que se complementam na história ao lado. Com um texto em que toda fala é uma deixa para o colega, e vice-versa, os atores tiveram dificuldade de decorar suas partes sozinhos. "Ensaiamos como um coral", explica a atriz e produtora Julia Carrera.

Recém-saída da novela Páginas da Vida (em que interpretou, grávida, a fonoaudióloga Tatiana e teve seu parto natural levado ao ar), ela vê no texto do australiano Andrew Bovell – que nunca havia tido uma peça encenada no Brasil – uma tradução da inquietude contemporânea com relacionamentos. A urgência do tema já levou o mesmo texto para a tela do cinema, em Lantana, de 2001.

A identificação do espectador é tamanha que o fato de o texto ser traduzido de uma obra australiana passa despercebido. Nada impediria que a primeira parte se passasse no Rio de Janeiro, por exemplo.

Já a segunda etapa é policial. A psiquiatra Valerie, interpretada por Julia, se perde no meio de uma estrada secundária com o carro quebrado. O estilo remete ao estrangeiro, mas as tramas não deixam de ser universais.

De todas as histórias sobre o afeto e a falta dele apresentadas no palco redondo do Paiol (considerado perfeito para a encenação múltipla), apenas uma termina bem. Resta uma esperança. GGG

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