• Carregando...

Aqui, Milton Hatoum.

Lá, Orhan Pamuk.

Nas livrarias, alguns milhares de títulos.

O ano de 2006 foi extraordinário para a literatura. Ainda mais no território brasileiro e por vários motivos.

Com o romance Cinzas do Norte, Hatoum se tornou o primeiro autor a vencer os dois principais prêmios literários do país em um mesmo ano, o Jabuti e o Portugal Telecom. O primeiro, em sua 48.ª edição. O segundo, na 4.ª. Se depender das alterações anunciadas pela empresa de telefonia portuguesa, a proeza do autor manaura deve demorar a ser igualada. A partir do ano que vem, o Portugal Telecom abre espaço para autores de língua portuguesa, colocando os brasileiros frente a frente com figuras do naipe do Nobel José Saramago e do moçambicano Mia Couto.

Falando em Nobel, este ano a Academia Sueca optou por um prêmio escancaradamente político e pagou mais de um milhão de euros para a obra do turco Orhan Pamuk. Persona non grata em sua terra natal, Pamuk, de certa forma, sintetiza o embate entre as culturas ocidental e oriental, um tema-do-momento desde o 11 de Setembro. Seu livro mais recente traduzido ao português é Neve, um dos destaques óbvios de qualquer retrospectiva literária que se preze.

Parati

Ninguém discorda, a Flip – Festa Literária Internacional de Parati –, criada pela inglesa Liz Calder, é o evento mais importante do gênero no Brasil. E precisou de apenas quatro edições para conquistar tal posição. Entre os convidados de agosto passado, estiveram a Nobel Toni Morrison, a repórter-lenda Lillian Ross e o casal 20 das letras americanas Jonathan Safran Foer e Nicole Krauss.

A partir do ano que vem, a diretora de programação Ruth Lanna (mulher de Milton Hatoum) viaja para os EUA com o marido e deixa sua função para o jornalista Cassiano Elek Machado, repórter da revista Piauí. Esta, aliás, também é um dos destaques editoriais do ano.

Paraná

Wilson Bueno terminar entre os dez finalistas do prêmio Portugal Telecom, Domingos Pellegrini colocar dois livros entre os melhores do Jabuti (romance e poesia) e Dalton Trevisan lançar Macho Não Ganha Flor foram os pontos altos da literatura paranaense.

Bueno e a editora Planeta contavam com ao menos o 3.º lugar do Portugal Telecom, que não veio – além de Hatoum, foram premiados História dos Ossos, de Alberto Martins, e Duas Praças, de Ricardo Lísias. Ainda assim, o fabulário Cachorros do Céu saiu da festa realizada em novembro como um dos dez melhores livros lançados no Brasil ao longo do ano passado – de um total de mais de dez mil inscritos –, de acordo com os júris formados para o evento e compostos por escritores, pesquisadores, editores e jornalistas.

Já a versatilidade de Domingos Pellegrini acabou reconhecida pela Câmara Brasileira do Livro, entidade responsável pelo Jabuti, entregue em setembro. O autor paranaense emplacou Meninos no Poder como o 2.º melhor da categoria romance e Gaiola Aberta no 3.º lugar de poesia.

Os prêmios máximos do 48.º Jabuti, para os livros do ano de ficção e de não-ficção, ficaram, respectivamente, com Cinzas do Norte (Hatoum) e Carmen (biografia de Carmen Miranda), de Ruy Castro.

Macho Não Ganha Flor não foi laureado – e nem precisa – para ser considerado um acontecimento. Trata-se do melhor trabalho de Dalton Trevisan nos últimos (cinco? dez?) anos e também porque o autor não é mais nenhuma criança. Aos 81 anos, Trevisan poderia escrever panfleto com propaganda de restaurante por quilo e, com certeza, seria um acontecimento. Fácil.

Editoras

A estréia do selo espanhol Alfaguara, vinculado à editora Objetiva (adquirida em parte pelo grupo Santillana), marcou os bastidores literários. A marca surgiu com lançamentos de peso, incluindo Travessuras da Menina Má, de Mario Vargas Llosa, e Onde os Velhos Não Têm Vez, de Cormac McCarthy (herdeiro direto da literatura de Ernest Hemingway e um dos grandes autores americanos vivos).

A Cosac Naify festejou o 20.º título de sua coleção Prosa do Mundo como se fosse o 100.º, lançando O Exército de Cavalaria, clássico de Isaac Bábel pela primeira vez traduzido direto do russo por Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade.

A Prosa do Mundo se tornou um divisor de águas por investir, a partir de 99, em autores e obras necessários até então ignorados (ou mal-tratados) no país, publicando-os com qualidade editorial inédita para os padrões nacionais. Entre os 20 volumes, estão Samuel Beckett (Fim de Partida e Esperando Godot), Elias Canetti (Auto-de-Fé) e Herman Melville (Billy Budd).

Outra manobra da Cosac Naify digna de nota é a edição de toda a obra do argentino Adolfo Bioy Casares, começada pelas Histórias Fantásticas e por A Invenção de Morel.

Este ano, teve ainda o aniversário da Companhia das Letras, que completou duas décadas de idade sem muito alarde. Lançou edições especiais para marcar a data – Rumo à Estação Finlândia, de Edmund Wilson, ganhou versão de bolso e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, edição comemorativa de seus 70 anos.

Faltou falar da reedição de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust (Globo), do 1.º volume da Obra Completa de William Sha-kespeare (Nova Aguilar), com tradução de Barbara Heliodora, e do lançamento de O Quarteto de Alexandria (Ediouro), obra-prima cult de Lawrence Durrell em quatro volumes, todos traduzidos pelo escritor Daniel Pellizzari. Mas o espaço acabou.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]