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Aos 40, Complexo de Portnoy segue obsceno e engraçado

Philip Roth ganhou o Prêmio Nacional do Livro por sua estreia, Adeus, Columbus (1959). Mal-e-mal comparando, é o equivalente americano do Jabuti no Brasil, dado pela Câmara Brasileira do Livro. O escritor tinha apenas 26 anos.

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A literatura como pretexto para pensar a vida

Carlos Nascimento Silva, apontado com unamidade pela crítica como um dos mais importantes escritores brasileiros, afirma: "Prefiro Philip Roth a qualquer outro escritor vivo que te­­nha lido."

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As ruas da memória de um escritor

Nova York - É um dia de aula. Crianças saem em bando da Escola de Ensino Médio Weequahic e da escola de ensino fundamental ao lado numa grandiosa tarde de outubro, berrando planos e até-logos sob o céu de um azul intenso. Com olhos um pouco estrábicos, você pode ver o que Philip Roth viu décadas atrás quando era um jovem rapaz.

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Romance é uma fantasia sombria

Nova York - Em Complô Contra a América (2004), uma sombria fantasia do que poderia ter acontecido na Segunda Guerra Mundial, o seu quinhão do sonho americano é ameaçado e tudo o mais, quando Charles Lind­bergh, um herói do outro lado do Atlântico conhecido por sua admiração a Hitler, derrota Franklin Roosevelt para Presidência em 1940.

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Philip Roth é o único escritor que teve sua obra publicada pela Library of America (Biblioteca da América) ainda em vida. Ao lado de dezenas de outros nomes que formam a literatura dos Estados Unidos, de Herman Melville a William Faulkner, o autor de Ho­­mem Comum terá toda a sua bibliografia editada em papel especial (que não oxida) e sua obra jamais ficará fora de catálogo – um dos compromissos da organização sem fins lucrativos fundada em 1979 e mantida com o dinheiro do National Endowment for the Humanities (órgão do governo americano) e pela Fundação Ford.

A literatura de Philip Roth, hoje com 76 anos, não envelhece. Ele já escreveu três dezenas de livros; o 30.º, A Humilhação, sai no Brasil em março no ano que vem, pela Companhia das Letras. Nemesis, o 31.º, está em finalização.

A capacidade de fabulação de Roth é imensa, e uma das virtudes do escritor é mencionada pelo escritor Ronaldo Bressane (Céu de Lúcifer): "Ele (Roth) escreve cenas de sexo como ninguém, com detalhes, humor, realismo e classe."

Falar, mais que isso, escrever sobre sexo é mais difícil do que se pode supor. É preciso elaborar cenas que funcionem e não descambem para a pornografia, para o pieguismo ou para a mera descrição relatorial. O Complexo de Portnoy, escrito sob a influência de Franz Kafka – de acordo com o próprio Roth –, é um exemplo disso (leia mais na página 2).

Quem leu apenas seus trabalhos mais recentes, como Fan­­tas­­ma Sai de Cena ou Indignação, não faz ideia do quanto ele sabe ser engraçado – característica que aparece em seus primeiros ro­­mances, When She Was Good (1967) e Letting Go (1962), inéditos no Brasil.

Ritmo

Bernardo Ajzenberg, autor de Olhos Secos, chama a atenção para outros aspectos presentes na literatura de Roth. "A liberdade na escolha e no desenvolvimento de seus temas, sempre provocantes e capazes de tocar fundo na sensibilidade dos leitores, e a riqueza estrutural das frases que ele elabora, com um ritmo sedutor e imagens diferenciadas", diz Ajzenberg.

Usando alter egos famosos (Nathan Zuckerman, David Ke­­pesh e um Philip Roth ficcional), o escritor já tratou de amor, morte, paixões, inveja, decadência física e moral etc.

O interessante é que os protagonistas de Roth envelheceram com ele. Fantasma Sai de Cena deve ser a coda para a série de Zucker­man. O Animal Agonizante tem a mesma função nos livros sobre David Kepesh.

A história recente norte-americana também está incoporada em sua prosa, como pano de fundo, cenário, contexto geral da ficção elaborada por um autor que parece mesmo atento a tudo o que se passa na vida de um homem.

Conflitos armados, por exemplo. A Guerra Fria está no enredo de Casei Com Um Comunista (um parágrafo deste romance arrasa boa parte da ficção que costuma ocupar as listas dos mais vendidos). A Segunda Guerra Mundial embala a distopia de Complô Contra a América. A Guerra da Coreia é elemento central do fantástico Indignação, todo construído em torno da frase final.

"Roth consegue ir do particular para o geral com uma sutileza enorme. A História se mescla com as individualidades de uma forma natural. Os temas mais amplos interferem nas coisas minúsculas e vice-versa, que é como ocorre na vida real", analisa Ajzenberg.

O escritor gaúcho Daniel Ga­­lera (Mãos de Cavalo), fala que Roth parece incapaz de escrever mal e tem uma série de argumentos que o credenciam não apenas como um escritor de primeira qualidade, mas também como o maior americano vivo.

"Em primeiro lugar, pela prosa vigorosa, elegante, enérgica. Em segundo, porque é um escritor sem medo de reconhecer e até defender fraquezas e instintos essenciais do homem, na medida em que fazem parte de nossas vidas e não podem ser negados ou desprezados. Em terceiro, porque aborda com muita sofisticação e coragem o problema dos limites entre a literatura e a vida, entre a ficção e a realidade", diz Galera.

Flip

Na próxima quinta-feira, Flavio Moura, curador da Festa Li­­terária Internacional de Paraty (Flip), terá um encontro com o agente literário de Roth. Moura, a exemplo do que postou no blog do evento, sabe que as chances de Roth participar do evento no litoral fluminense são mínimas, mas, como ele mesmo diz: "perguntar (no caso, convidar) não ofende e a insistência faz parte do ofício".

Nos últimos cinco anos, Roth escreve e publica livros cada vez mais breves – seus romances foram de quase 600 páginas para menos de 200. Fato: quanto mais sintético é o livro, maior é a intensidade da história narrada.

"Eu quero que ele morra logo para parar de nos humilhar com uma obra-prima por ano", diz Ronaldo Bressane.

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