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Na terça-feira passada, a reportagem do Caderno G foi conferir uma sessão de O Segredo de Brokeback Mountain. Um terço da sala estava cheio de gente disposta a ver o filme que vem sendo cunhado pela imprensa de "western gay". O longa se apropria de elementos do melodrama e do bangue-bangue para contar uma história de amor entre dois homens. No final da exibição, um misto de choque e interesse foi relatado pela platéia presente. A projeção também foi tomada por algumas risadinhas, "ohhhs" e "uiiis" esporádicos.

Em outras sessões, espectadores saíram durante a projeção, em meio a cenas-chave do filme. Em alguns países, como nos Emirados Árabes, a exibição foi proibida. Até uma das co-autoras do roteiro, Diana Ossana, relatou que seus amigos e parentes tiveram dificuldade em aceitar a trama homossexual. "Tive de dizer a eles: ‘É apenas um filme. O que vocês acham que vai acontecer se vocês o virem?’ Não tem sido fácil", contou a escritora à imprensa estrangeira.

A polêmica é proporcional ao sucesso: com custo de US$ 11 milhões, o filme já rendeu U$ 66 milhões nas bilheterias dos Estados Unidos. No Brasil, quase 300 mil pessoas já viram O Segredo.... O filme também concorre a oito Oscar nas categorias direção, filme, roteiro, ator, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, trilha sonora e direção de fotografia.

Reações

"Ninguém espera cenas tão fortes", diz Augusto Janiscki Junior, 38 anos. O empresário conta que ficou impressionado porque o longa mostra abertamente situações às quais ele não está acostumado no seu cotidiano. "Hoje vivemos uma época de aceitação. Mas uma coisa é aceitar e outra é visualizar aquilo em uma tela de cinema", comenta. Sua companheira, a advogada Eliane Cristina Boneti, 29, concorda. "A gente sabe que existe, acontece, todo mundo diz que respeita, a gente respeita, mas ver as cenas acaba chocando", diz. O casal foi ao cinema levado pelas indicações ao Oscar e reitera as qualidades da produção. "É um filme muito interessante, porque busca uma época não tão tolerante à homossexualidade, inclusive pelo trabalho deles, o de caubóis. É tudo muito bem realizado, a fotografia é belíssima", elogia Janiscki.

O engenheiro aposentado Marcelo Carvalho, de 74 anos, diz que um filme como esse não seria possível na época de sua juventude. "Não passaria de jeito nenhum. Não lembro de ter visto algum parecido antes", diz. Não porque não houvesse homossexualismo naquele cinema, mas porque o assunto sempre esteve renegado a subtextos, como em Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock, ou nos westerns de Howard Hawks (Rio Vermelho, em particular).

Carvalho ficou sabendo de O Segredo... por meio dos jornais e resolveu conferir. Elogia a condução da trama e sua maneira de lidar com "um tabu na sociedade". "Ele se passa em um época e região em que havia machismo, então acaba quebrando esse tabu do caubói. É bem feito, é uma história de amor, e o amor existe em qualquer sociedade e circunstância", afirma.

O estudante de física Erick Rauber, 23, sempre acompanha as premiações de cinema. O Segredo... chamou atenção na transmissão do Globo de Ouro, quando venceu as categorias de melhor direção (Ang Lee) e filme. "Gostei por ser algo diferente. Mas acho difícil dizer que gosto do filme. Se alguém me perguntar ‘Gostou do filme?’, digo ‘Gostei’, mas sempre com um receio de estar admitindo ter gostado de um filme que tem cenas como essas, bem mais fortes do que eu imaginava", declara.

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