Humor para falar de intolerância

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No quadrinho A Noite dos Palhaços Mudos, publicado em 1987 na revista Circo, o cartunista Laerte criou personagens que transitam entre o real e a fantasia, o que gerou uma espécie de "clown noir" na história. A partir de quinta-feira, a Caixa Cultural recebe espetáculo homônimo do grupo La Mínima, de Domingos Montagner e Fernando Sampaio (veja o serviço completo do espetáculo no Guia Gazeta do Povo). A peça, dirigida por Álvaro Assad, é uma adaptação da HQ, e aborda as intolerâncias e conflitos urbanos a partir do humor sem palavras. Na temporada de Curitiba (a primeira apresentação foi em São Paulo, em 2008), o ator Marcelo Castro substitui Montagner, por conta de gravações da Rede Globo. Os ingressos serão vendidos a partir de hoje, ao meio-dia. A companhia também realizará uma oficina gratuita para profissionais da área na sexta-feira e no sábado.

A parceria entre a companhia e Laerte não é de hoje, e já rendeu, inclusive, um Prêmio Shell em 2008, quando Montagner e Sampaio ganharam na categoria de melhor ator por Piratas do Caribe, o Filme. Mesmo com a experiência, a adaptação do quadrinho é sempre "árdua", diz Assad. "É um trabalho meticuloso, prazeroso e difícil. As escolhas são sempre entre o detalhe necessário para que o público tenha uma leitura gestual necessária para o entendimento. O primeiro desejo foi realizar o espetáculo buscando fidelidade à HQ e a força pulsativa dos palhaços, sem palavra alguma."

A Noite dos Palhaços Mudos narra a história de seres que habitam a cidade e se dedicam a praticar palhaçadas. No entanto, algumas pes­soas os consideram uma ameaça e iniciam uma perseguição aos dois – na captura, somente um é pego e tem o nariz mutilado. Surge então o segundo palhaço, que leva o colega para um ousado "resgate nasal", o que sugere que os maiores conflitos são os mais simples da relação humana, e mostra, segundo Assad, as dificuldades que o homem tem em aceitar o diferente. "A diversidade é necessária, mas alguns não admitem isso por ignorância, preconceito ou incapacidade de conviver."

Mudos

Criar situações que provoquem entendimento em cenas sem palavras é o maior desafio em um espetáculo cujo roteiro é ausente de falas. Isso não significa falta de comunicação entre os atores, salienta Assad. "As palavras não surgem entre a dupla por não serem necessárias, já que o entendimento entre eles é simplesmente em atos, movimentos e situações em que a palavra seria supérflua."