Além das sapatilhas cor-de-rosa
Para pesquisadores da área, experiência inicial de contato com essa expressão artística não precisa estar atrelada ao aprendizado do balé classico
O questionamento sobre a nova realidade da dança clássica chegou a escolas tradicionais como a do Balé Guaíra, que prepara uma ampla reformulação de sua estrutura. A mudança assustou os pais e não é raro ouvir por aí que ela "vai acabar, vão privatizar". Não é o que diz a superintendente do complexo Guaíra, Mônica Rischbieter, ferrenha defensora do ensino de qualidade nas artes.
O problema é que a escola vem formando poucos bailarinos, e tornou-se necessário questionar as raízes disso. Seria culpa do precário local de funcionamento? Hoje as aulas ocorrem num imóvel alugado, que está em frangalhos. Seria a falta de professores e pianistas? Quanto a esses dois problemas, pais e escola concordam que existem e precisam ser resolvidos.
O ponto de desavença tem sido a redução do período de formação, que hoje alcança nove anos. No nível técnico, têm se formado apenas 10% dos alunos, o que levou a direção a planejar a redução do tempo pela metade, de três anos para um ano e meio. "Com 15 ou 16 anos, o jovem não consegue esperar para obter o diploma técnico, ele já quer trabalhar como bailarino", diz Mônica.
O curso de formação é concluído por ainda menos gente: apenas 5% chegam ao fim. "Não se deve começar a formação com 5 anos", diz Mônica, que identifica o problema no rigor e no longo percurso proposto.
"A criança tem de brincar, experimentar o movimento. Agora, a formação começará aos 9, 10, no máximo aos 12 anos", explica. A experimentação de que ela fala viria na forma de oficinas de dança para crianças, o que flexibilizaria o formato atual de aulas. Em casos excepcionais o início poderia ser antecipado.
Maturidade e disciplina
A bailarina Eleonora Greca entende que a idade de 8 anos é boa para o início do aprendizado clássico, que deve começar, no máximo, aos 12 anos. Se o rigor vier muito cedo, a criança pode não ter maturidade para encarar as exigências de disciplina. "Minha única preocupação é que [a escola do Balé Guaíra] perca a finalidade de transmitir conhecimento de forma séria. Nem todos que entram precisam se formar como artistas, mas espero que não se torne um lugar só para curtir a arte", pondera.
O coordenador do curso de Dança da FAP, Giancarlo Martins, que defende o contato da criança com a dança ainda na escola regular, não vê problemas no ensino da técnica clássica começar mais tarde do que se faz hoje, mas questiona a forma como é inserido o ensino de outras técnicas.
"Qualquer outra técnica costuma vir como sinergia, não como o forte das escolas, que é o clássico. Mas o mundo está mudando. O corpo que vai buscar a dança hoje é muito diferente do corpo de 20 anos atrás", diz.
A atual diretora do Balé Teatro Guaíra, Cintia Napoli, endossa as mudanças. "O clássico não é a técnica ideal para se começar muito cedo. Ele é tão bem estruturado que, muitas vezes, fica fechado na técnica, enquanto o fantástico é que ela seja um meio. A criança pequena enxerga como meta atingir uma abertura de 180 graus, por exemplo, mas não desenvolve a criatividade. Acaba não precisando descobrir quais são suas reais possibilidades físicas, e o balé clássico feito assim pode ser frustrante", alerta.
Ela aceita o início de atividades aos 7 ou 8 anos, mas é a favor da entrada para valer aos 12 anos. "Não significa que a pessoa chegará com o corpo adormecido. Com essa idade a pessoa já teve interesse e buscou oficinas. Eu já questionava o tempo que o aluno fica dentro da escola, sem ter vida intelectual, social e afetiva", diz.
As aulas de segundo semestre da escola do Balé Guaíra serão retomadas normalmente em 1.º de agosto. No fim do mês, a direção planeja reunir todos os pais e professores e apresentar sua proposta de mudanças, esclarecer dúvidas e ouvir opiniões e sugestões. Uma consultora contratada para acompanhar a reforma estrutural estará presente.
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