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B.B. King: depois de realizar mais de 10 mil concertos, continua na estrada em boa parte do tempo | Olga Labrador/EFE
B.B. King: depois de realizar mais de 10 mil concertos, continua na estrada em boa parte do tempo| Foto: Olga Labrador/EFE

B.B. King tem 83 anos e gravou mais de 50 discos em 60 e tantos anos de carreira. O que mais ele pode fazer? Não dá para reinventar o blues. Um novo trabalho, com certeza, vai soar redundante.

Não tão rápido.

Um dos maiores bluesman de todos os tempos – sem dúvida o mais importante entre os vivos –, King acaba de lançar One Kind Favor, produzido por T-Bone Burnett, músico e produtor que consegue transformar em prêmios Grammy tudo o que toca. É célebre a colaboração dele com os irmãos Coen na trilha sonora do filme E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?.

A idéia de One Kind Favor pode não ser original, mas é perfeita: fazer King revisitar algumas das composições – hoje clássicas – de figuras do blues que o influenciaram no início de carreira, nos anos 1940. Além disso, tentar reproduzir em estúdio as condições de gravação da época. Nada dos recursos tecnológicos disponíveis hoje (embora o disco não seja mono e não tenha a sonoridade da primeira metade do século passado).

O resultado é um álbum que consegue ser bem produzido e livre de enfeites. Burnett deu autonomia aos instrumentistas. Ouve-se a guitarra, o baixo, o piano e os metais sem nenhum adereço. O clima é ideal para as canções escolhidas, todas com 50 anos de idade ou mais.

A lista inclui trabalhos de T-Bone Walker, Chester Burnett, Blind Lemon Jefferson, Lonnie Johnson, John Lee Hooker e outros.

Gostam de dizer que o francês Charles Aznavour, aos 84 anos, mantém quase a mesma forma de três, quatro décadas atrás. Pois ouça B.B. King cantar "My Love Is Down" e tente se convencer de que a voz que entoa "Don’t you understand me baby? There’ll never be no other one but you" é de um senhor octogenário.

A vitalidade do chamado "Rei do Blues" é de fazer queixos caírem. O que torna o título One Kind Favor ("Um favor bom") uma espécie de brincadeira. As palavras foram tiradas da composição de Blind Lemon Jefferson, "See That My Grave Is Kept Clean", literalmente, "Veja Se Meu Túmulo É Mantido Limpo".

Dá para imaginar King e Burnett pinçando esse clássico com um sorriso no rosto. Como um blues deve ser, o verso "Existe um favor que eu vou te pedir", que abre a música, é cantado três vezes, para desembocar em "Veja Se Meu Túmulo É Mantido Limpo".

Assim como a voz, os dedos de King estão precisos – ele faz sua guitarra, a Lucille, lamentar as tristezas da vida em faixas como "Get These Blues Off Me" e "Waiting for Your Call".

Para deixar claro a que a palavra "vitalidade" significa em relação ao B.B. King, basta dizer que ele já realizou mais de 10 mil concertos e continua em turnê durante boa parte do seu tempo.

No mês passado, ele inaugurou um museu com o seu nome, aberto na cidade onde nasceu, Indianola, no estado do Mississippi. Também em setembro, deu início a um programa de rádio semanal na emissora XM. King já venceu 14 prêmios Grammy e foi homenageado por várias entidades ligadas ao mundo da música. E ainda arranja tempo e fôlego para lançar um disco respeitável.

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