Quem e o quê
Saiba um pouco mais sobre o novo diretor da BPP e seus planos para a biblioteca mais importante do estado
Biografia
Diretor da Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira tem 38 anos e há dez é editor do jornal literário Rascunho, periódico que é hoje uma referência nacional para o mercado editorial brasileiro. Ligado ao jornal, ele criou o projeto Paiol Literário e trouxe ao Teatro Paiol dezenas de escritores importantes no cenário nacional para debates com o público. É também um dos sócios do café e restaurante Quintana, com cardápio e decoração inspirados na literatura.
Tríade
Pereira dividiu o plano de administração da BPP em modernização, acervo e programação cultural. Se conseguir colocá-los em prática, as fichas de papel serão aposentadas e as consultas poderão ser feitas sempre pelo computador, poupando tempo e trabalho de funcionários e usuários; serão feitas compras expressivas e regulares de livros para o acervo algo que não acontece há oito anos ; e transformará a biblioteca numa referência na programação cultural da cidade.
Rogério Pereira acredita que os livros podem mudar o mundo. Se não o planeta todo, pelo menos o mundo particular de cada um. Na entrevista concedida para a Gazeta do Povo, na última terça-feira, ele não disse, exatamente, "Eu acho que os livros podem mudar o mundo", mas, por sua história e por suas atitudes, fica evidente que pensa assim.
O novo diretor da Biblioteca Pública do Paraná (BPP), que assume o cargo no lugar de Claudio Fajardo, age há pelo menos dez anos como alguém que crê na literatura uma década é a idade do jornal literário Rascunho, editado por Pereira. Difícil pensar em outros motivos além da paixão pelas letras para assumir a dor de cabeça que é editar um jornal e, no fim do dia, descobrir que as dívidas só aumentam. Passados dez anos e a despeito das contas, o Rascunho tem méritos. E é, em parte, por causa deles que Pereira ganhou o convite para administrar a BPP.
Ele entrou na sua sala, no terceiro andar do prédio na Rua Cândido Lopes, no último dia 5 e passou as últimas duas semanas em reuniões para se informar sobre o estado de coisas da BPP. No mesmo dia em que conversou com a reportagem, participaria de uma reunião sobre o orçamento de 2011, aprovado no ano passado pela gestão anterior, para descobrir que só há dinheiro para a manutenção da biblioteca. E olha lá.
Pereira falou com um entusiasmo tranquilo sobre os planos que tem, sendo realista sobre as dificuldades que deve encontrar daqui em diante. "Eu tenho uma ideia de como uma biblioteca deve funcionar", disse. E é sobre as suas ideias que aceitou conversar.
Quando chegou ao prédio, Pereira logo identificou nas pessoas que trabalham ali (não em todas, obviamente) algo a mais, um sentimento parecido com a paixão que move o Rascunho. Os livros têm disso: conseguem inspirar as pessoas ainda que existam muitas dificuldades. Numa consulta rápida, vários funcionários e estagiários citam "estar entre os livros" como uma das coisas que mais gostam na rotina de trabalho.
"A biblioteca funciona extremamente bem por causa do envolvimento de quem trabalha aqui. Eles têm amor pela coisa. A situação é precária em alguns sentidos, é fragilizada, mas a estrutura é bem cuidada", disse Pereira.
A BPP foi criada em 1857 e se mudou para o local onde está hoje em 1954. Ela soma 530 mil volumes, contando também os periódicos, e atende 2,5 mil pessoas por dia. Há eventos culturais muitos para crianças, como as sessões da Hora do Conto e a maior parte do público procura referências para trabalhos escolares e pesquisas acadêmicas. Isso não é tudo, mas mostra o que significa "funcionar bem".
A "situação precária" se refere à manutenção do acervo e aos mecanismos de cadastramento e de procura.
De acordo com Pereira, faz oito anos que a BPP não faz uma compra expressiva de livros para o acervo. Nesse período, contou muito com a generosidade de doadores. Um leitor que tenha procurado ali títulos recentes, seja um romance do norte-americano Philip Roth ou os policiais do sueco Stieg Larsson, deve conhecer os nomes de Wilson Martins (1921-2010) e Sansão José Loureiro, os dois maiores benfeitores na seção de obras literárias. Muitos dos livros mais recentes foram doados por eles.
Por telefone, Claudio Fajardo, ex-diretor da BPP, conta que foram priorizadas a criação de bibliotecas no interior paranaense, dentro do projeto Biblioteca Cidadã, e a manutenção do prédio na capital, que tinha problemas graves. "Chovia dentro da biblioteca. Não adiantaria nada pôr livros novos lá sem resolver esses problemas", diz Fajardo. "Por isso fomos atualizando precariamente o acervo, mas em nenhum momento investimos menos de R$ 4 mil [por ano]."
Considerando um valor médio de R$ 30 por unidade, os R$ 4 mil comprariam 133 livros no ano, ou 11 por mês. Quanto às bibliotecas cidadãs, Fajardo conta que cem foram concluídas, com o Estado fornecendo o prédio e um acervo inicial de 2 mil volumes aos municípios atendidos.
O plano
"Não é nada revolucionário. Só vou fazer o óbvio, mas, se ele for bem feito, vai ser revolucionário", disse Pereira. "É preciso colocar a biblioteca em dia com o seu tempo."
O "óbvio" a que ele se refere são ações pequenas que podem fazer uma diferença grande para o público. Um exemplo é o acesso à internet sem fio. Hoje, ele não existe dentro da BPP, apesar de ser algo relativamente fácil de providenciar.
A conexão sem fio faz parte do que Pereira chama de "modernização", um dos elementos na tríade com que pretende trabalhar, que inclui também "acervo" e "programação cultural".
Outro item do tópico "modernização" diz respeito aos fichários, uma tecnologia lenta e trabalhosa, quase absurda se você pensar no espaço que ocupa e no tempo que consome. Ela beira a incoerência quando se considera que o acervo já está todo cadastrado no computador e pode ser consultado pela internet, porém, como não há terminais para os usuários, ainda é necessário datilografar as fichas, conferi-las, corrigi-las (quando é o caso) e incluí-las no trambolho de metal que fica no saguão do prédio.
Todo esse processo pode levar meses, o que explica a demora para os títulos novos chegarem às prateleiras.
Acervo
Pereira quer usar o máximo que puder do orçamento para a compra de livros. Se isso não for possível e há sinais de que 2011 será complicado ele vai desenvolver projetos para a captação de recursos e pedir ajuda à Associação dos Amigos da Biblioteca Pública do Paraná.
Numa troca de e-mails depois da reunião orçamentária, Pereira explicou que não há verba estipulada para o acervo este ano. "Mas há caminhos para se conseguir. Estou verificando tudo com muita calma."
A equipe da biblioteca prepara um levantamento dos títulos que precisam ser comprados, aliando os livros pedidos pelo público àqueles apontados por um grupo de curadoria, do qual o diretor faz parte. A primeira lista será de obras literárias, depois devem ser formados grupos para apontar títulos de áreas específicas como medicina e direito.
Programação
"Não sou um especialista em bibliotecas, mas sou em literatura", disse Pereira. Com os contatos e a experiência que acumulou editando o Rascunho e organizando o Paiol Literário projeto em que trouxe dezenas de escritores importantes para debates no Teatro Paiol , talvez ele possa, ao contrário do que diz, revolucionar de verdade a BPP.
Ele também faz planos de reativar o jornal da biblioteca, rever o boletim informativo, oferecer mais oficinas hoje, existem duas, de recorte/colagem e pintura, além de um curso de mangá.
O primeiro sinal de mudança na programação cultural aparece com a escritora Marina Colasanti, que confirmou presença na BPP no dia 17 de março, para conversar com os leitores. Ela venceu o Prêmio Jabuti 2010 na categoria poesia pelo livro Passageira em Trânsito (Record).
Serviço: Na internet: www.bpp.pr.gov.br
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Interatividade
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