O Ibope tentou medir em 2016 quão conservadora a população brasileira é. Segundo critérios da pesquisa do Índice de Conservadorismo do Brasileiro, divulgada recentemente no jornal Estado de S. Paulo, 54% da população seria altamente conservadora, um aumento de cinco pontos percentuais em relação ao último estudo, feito seis anos atrás. Os entrevistados tiveram que responder a cinco questões. O problema é que o método falha em apontar o que seria verdadeiramente conservadorismo.
O Ibope questionou se a população era favorável ou contrária aos seguintes pontos: 1) legalização do aborto, 2) casamento homoafetivo, 3) pena de morte, 4) prisão perpétua e 5) redução da maioridade penal. Grande parte respondeu não às duas primeiras perguntas e sim para as três últimas, sendo, portanto, considerado altamente conservador pelo instituto de pesquisa, com um índice igual ou superior a 0,7 (o índice varia de 0 a 1). Mas não são essas necessariamente as pautas do conservadorismo.
“É um recorte errado. Alguns temas são complicados. A pena de morte, por exemplo, é aplicada em Cuba, em que morrem as pessoas contrárias ao regime, principalmente. Aqui, se houvesse, seriam assassinos e estupradores”, acredita o analista político Flavio Morgenstern, do site Senso Incomum.
“O pensamento conservador lida com aspectos concretos enquanto a esquerda fala de problemas abstratos, como desigualdade, desconstrução. Grande parte da população só quer saber de trabalhar e viver em paz e a criminalidade, por exemplo, a afeta diretamente, principalmente os mais pobres”, completa Morgenstern.
Segundo o Ibope, o conservador médio teve índice entre 0,4 e 0,6 e corresponde a 41% da população. O liberal extremo deu respostas opostas e representa 5% dos entrevistados. Na média, o brasileiro teve nota 0,686, que mostraria um perfil que pende mais pro lado conservador do que para o liberal.
As perguntas também não refletem outros aspectos da linha de pensamento. “Não significa necessariamente que o conservadorismo cresceu. Quem respondeu às perguntas desta forma pode defender também a distribuição de renda, por exemplo”, diz o cientista político Pedro Fassoni Arruda, cientista político e professor da PUC de SP.
Os setores mais conservadores, segundo o estudo, são os evangélicos (índice 0,717), os homens (0,706) e os menos escolarizados (0,701).
O que mudou em seis anos entre os estudos?
Os grupos de direita e extrema direita, assim como as seitas neopentecostais, que tendem a ser mais conservadoras, podem explicar também que as perguntas tenham sido respondidas dessa maneira. Mas é preciso diferenciar o conservador do reacionário, por exemplo. “Como os nomes dizem, o conservador faz a defesa das instituições. Já o reacionário quer fazer a roda da história girar para trás, quer suprimir os direitos das minorias”, diz o professor Pedro Fassoni Arruda.
A ‘bolha da esquerda’ é outro fator apontado por Morgenstern para o crescimento desse pensamento. “Eles ficaram nas universidades, apartados da população, e não sabiam as suas vontades”, afirma ele. Os resultados das eleições municipais em muitas capitais brasileiras e, fora de nossa realidade, a vitória de Donald Trump, nos Estados Unidos, são exemplos disso.
Bolsonaro, que tem sido mencionado como uma ‘ameaça’ possível para assumir o Planalto em 2018, ainda não tem essa representatividade toda, acredita Morgenstern. “Ele ainda é desconhecido para grande parte da população. O Brasil está se politizando, mas ele é alvo da mídia e de parte da população, mais estudada. Ele fala em nome das pessoas que se sentem ameaçadas pela criminalidade. E assim, quanto mais baterem nele, mais ele vai se fortalecer para essas pessoas”, acredita.
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