O jornalista Jorge Pontual é conhecido por suas tiradas, digamos, espirituosas. Nem sempre é bem-sucedido, mas, desde a última terça-feira (27) ele tem apanhado do tribunal da web. É que o o correspondente da Globo em Nova York encerrou um de seus comentários no “Em Pauta”, da Globo News, imitando Chewbacca, um dos personagens mais queridos da saga “Star Wars”. A intenção, com os sons guturais, era homenagear Carrie Fisher, a princesa Leia, que morreu na própria terça.
O apresentador Sergio Aguiar, no estúdio do Rio, e as colegas comentaristas Mara Luquet, direto de São Paulo, e Eliane Cantanhêde, de Brasília, reagiram como a uma piada sem graça contada por um tio querido. E talvez seja a melhor leitura a ser feita do caso.
Pontual explicou, após as risadas amarelas dos colegas, que a intervenção cômica combinava com Carrie, que primava por ser direta e sarcástica. Muitos telespectadores, em posts e tuítes revoltadíssimos, decretaram ali a morte do jornalismo, julgando que não cabia a ele, como repórter, tentar ser engraçado. Essa crítica, porém, carece de atualização. O jornalismo, em especial o televisivo, pode flertar a todo momento com entretenimento.
E isso não é novidade. Já em 1985 o teórico da comunicação Neil Postman (1931-2003) previa o estreitamento da ligação entre as duas áreas. E explicava que o modelo jornalístico era, desde então, muito mais calcado em diversão do que propriamente informação.
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“É por isso que mesmo nos telejornais que nos fornecem fragmentos de tragédias e barbárie, nós somos convidados pelos apresentadores a ‘encontrá-los amanhã’. Para quê? Pode-se pensar que muitos minutos de homicídio e caos seriam material suficiente para um mês de insônia. Nós aceitamos o convite porque sabemos que a ‘notícia’ não é para ser levada seriamente, que é tudo diversão, digamos assim. Tudo a respeito de um telejornal nos conta isso – a boa aparência e a amabilidade dos apresentadores, sua provocação agradável, a música animada que abre e encerra o programa, as filmagens realistas, os comerciais atraentes – tudo isso e mais sugerem que aquilo que acabamos de ver não é motivo para lamentar. Um telejornal, para falar a verdade, é um formato para entretenimento, não para educação, reflexão ou catarse”, diz trecho de “Amusing Ourselves to Death – Public Discourse in the Age of Showbusiness”.
Na introdução da versão de 20 anos da obra, publicada postumamente em 2005, o filho do pesquisador, Andrew Postman, solidifica esta noção de departamentos unificados, sob protestos do jornalismo. O contexto da reedição, 11 anos atrás, já lidava com reality shows e o desinteresse do público jovem por conteúdo puramente noticioso.
Os veículos têm feito adaptações, buscando mais leveza de formato. Exemplo, no Brasil, é a boa aceitação de notícias em formato de listas, que já vinha fazendo a cabeça dos americanos. Na TV, exemplos são a era coloquial de Tiago Leifert no “Globo Esporte” e até a concessão de, em pleno “Jornal Nacional”, Maria Júlia Coutinho ser chamada pelo apelido que não usa profissionalmente.
É o que faz também em alguma medida o mesmo “Em Pauta” da polêmica da semana. Os comentaristas fazem piada um com o outro, riem e se provocam. Aos fins de ano, sorteiam amigo secreto. O próprio Pontual costuma recitar poesias. Em seu perfil do Twitter, ele rebateu as críticas no calor dos acontecimentos recentes. Alguns o acusaram de fazer pouco de uma ocasião solene, ao que ele respondeu que os detratores é que não conheciam bem a atriz, que costumava brincar com a própria morte. A quem disse que ele colocou a pá de cal na profissão, mandou. “Muito engraçado, pseudojornalistas chorando a ‘morte do jornalismo’ porque eu tratei com bom humor da grande figura que foi Carrie Fisher”.
Nesta quarta-feira, resolveu pedir desculpas. “Não foi minha intenção ofender nem desrespeitá-la (Carrie Fisher). Lamento”, escreveu no microblog. Talvez Pontual não seja mesmo um humorista dos mais afiados, mas seu único pecado mesmo foi ter feito uma das piores imitações de Chewbacca da história.
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