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Galeria Nacional de Arte, em Washington: orçamento das artes é pouco, mas significa muito | Kevin Lamarque/Reuters
Galeria Nacional de Arte, em Washington: orçamento das artes é pouco, mas significa muito| Foto: Kevin Lamarque/Reuters

Eu imagino que devemos interpretar como uma coisa boa qualquer sinal que a administração Trump der de que irá operar pelas normas padrão da política, em vez de pelas explosões espontâneas que definiram sua campanha e transição.

Mas às vezes os procedimentos regulares da política não são dos mais inteligentes também, e os primeiros comentários sobre o primeiro orçamento de Trump sugerem que ele irá direto a umas das piores ilusões dos republicanos: fingir que eliminar as agências do National Endowment for the Arts junto com o National Endowment for the Humanities e privatizar a Corporation for Public Broadcasting seriam componentes sérios de um esforço a sério para enxugar o orçamento federal.

Primeiro, tem a questão dos números. O National Endowment for the Arts solicitou um orçamento de US$ 149,849 milhões para o ano fiscal de 2017, enquanto o National Endowment for the Humanities solicitou US$ 149,848 milhões. As verbas da Corporation for Public Broadcasting para os anos fiscais de 2017 e 2018 são de US$ 445 milhões anualmente.

O total de US$ 744,7 milhões é uma fração minúscula do orçamento de US$ 4,15 trilhões do presidente Barack Obama. É menos da metade do que Jared Kushner pagou pela 666 Fifth Avenue em 2006. É um pouco mais de dinheiro só do que os US$ 713 milhões em empréstimos na declaração pública de bens de Trump. É menos de quatro vezes os US$ 200 milhões com os quais Betsy DeVos, a quem Trump indicou para secretaria da educação, e sua família contribuíram em doações para o Partido Republicano.

Qualquer um que finja que esse é um valor particularmente significativo e que cortá-lo seria um procedimento sério para enxugar o orçamento do governo federal está tentando iludir o público.

E o ataque às artes é um gesto particularmente desdenhoso e fraudulento pelo fato de que os republicanos que o propõem, com periodicidade, muitas vezes sugerem que as únicas pessoas que se importam com as artes são os liberais elitistas das regiões da costa leste ou oeste dos EUA, que, se quiserem tanto assim, podem pagar pela cultura do seu próprio bolso.

Mas uma das coisas que o National Endowment for the Arts, o National Endowment for the Humanities e a Corporation for Public Broadcasting fazem é levar as artes e as humanidades a áreas que não contam com grandes museus ou muitos mecenas ricos para oferecerem sinfonias, balés e peças de teatro, além de preservarem e darem apoio a tradições locais de artes populares.

INTERIOR

219 das 577 estações de televisão que recebem dinheiro da Corporation for Public Broadcasting atendem a comunidades rurais. Boa parte de suas receitas dependem desses repasses, e elas recebem menos apoio dos patrocinadores do que as estações em áreas mais densas.

Em outras palavras, se o National Endowment for the Arts, o National Endowment for the Humanities e a Corporation for Public Broadcasting forem extintos, os afetados não serão quem mora nas grandes regiões metropolitanas nas costas leste e oeste do país. É possível que haja cortes, e que os grandes doadores terão que doar mais, mas as nossas instituições artísticas e estações públicas de rádio e TV estarão menos vulneráveis. As pessoas que serão afetadas de verdade pelos cortes e privatizações dessas organizações seriam os eleitores que moram fora de cidades universitárias ou de regiões costais, que muitas vezes só têm comunidades artísticas vibrantes graças às universidades.

E sabem de uma coisa? Talvez os oficiais republicanos não tenham nenhum problema quanto a isso. Talvez eles mesmos pessoalmente não se importem com as artes, nem com a receita que pode entrar, via turismo, com um museu que conta com apoio federal, ou com a oportunidade das crianças do distrito de vislumbrarem algo que lhes permita enxergar o mundo de um jeito diferente. Talvez seja divertido demais rir dos liberais ou dolorido demais cortar os subsídios corporativos, o que irritaria os grandes doadores de campanha.

Mas, se for para passarmos por essa discussão imbecil toda vez que o congresso tiver que aprovar um orçamento, eu queria que pudéssemos simplesmente admitir que cortar o apoio federal às artes e humanidades é uma tática de combate nas guerras culturais, não um modo de reduzir o déficit federal. Qualquer um que sugerir o contrário estará se expondo como um covarde e preguiçoso.

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