No dia 2 de janeiro, em seu primeiro dia de trabalho, o prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB), cumpriu uma promessa de campanha e, vestido de gari ao lado de seus secretários, varreu o chão da praça 14 Bis, no centro da cidade.
“Varreu”, no caso, é um exagero. Na verdade, Doria só empunhou a vassoura para tirar fotos e passou a maior parte da uma hora e dez minutos em que ficou uniformizado na rua dando entrevistas à imprensa.
Em Curitiba, o prefeito eleito Rafael Greca (PMN) havia dito que iria “calçar sandálias havaianas e pegar uma vassoura” para começar pessoalmente o processo de lavagem da cidade. Não varreu as ruas, mas segurou a mangueira enquanto os garis lavavam o calçadão da Rua XV, no centro de Curitiba, durante a noite desta terça-feira (31).
“Tem merda humana no calçadão, incrustada. Isso dá doença. Está sujo e temos que limpar”, disse Greca.
É o que pode ser chamado de tática “molejão”, uma referência ao grupo de pagode da década de 1990, autor da música “Dança da Vassoura”, cujo refrão diz: “diga aonde você vai, que eu vou varrendo”.
O uso político da imagem do prefeito de vassoura (ou mangueira) na mão passa uma mensagem dupla: a de que o alcaide vai zelar pessoalmente pela cidade como se fosse um síndico do condomínio de eleitores.
A fórmula atende a um anseio do eleitorado que parece preferir uma administrador municipal que conheça de perto os problemas da cidade
Em 2012, um estudo realizado pelo cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro “A Cabeça do Eleitor”, revelou que os eleitores de capitais conservadoras brasileiras - caso de São Paulo e Curitiba - querem que a atuação do prefeito se aproxime mais do trabalho realizado por um síndico de condomínio do que de um “político tradicional”.
Assim, ainda que durante as campanhas eleitorais temas como saúde, educação e transporte sejam os mais debatidos, quando as gestões efetivamente se iniciam, ações como limpeza das ruas, praças e parques, conservação de pavimentos e calçadas e limpeza de pichações criam a sensação de que o prefeito está realmente cuidando da cidade.
“Você tem uma demanda de gestão grande. As cidades mais conservadoras preferem administradores que têm a cara de um síndico de condomínio do que propriamente de um político”, disse Almeida.
Para o cientista político Malco Camargos, da Universidade Federal de Minas Gerais, nos casos de Dória e Greca, a atitude também tenta criar uma nova “persona pública” para ambos.
“A ideia é estar mais próximo do cidadão e dos servidores, e diminuir a distância entre estes políticos e a população. Uma tentativa de construção de uma nova identidade”.
Para Camargos, é preciso saber como estas atitudes com “cheiro de populismo” serão recebidas pela população.
“É preciso ver como a população vai entender este movimento e o quanto ele pode soar falso ou verdadeiro. Eu tenho a impressão que ações como essa podem ter o efeito contrário ao esperado e evidenciar ainda mais a distância real entre governantes e população”.
Varre,vassourinha!
A vassoura já serviu como instrumento de marketing politico na campanha que levou Jânio Quadros, então candidato pelo PTN à presidência da República em 1961. Jânio se elegeu com um discurso conservador contra a corrupção e prometia “varrer a bandalheira”. Seu partido, o PTN preserva até hoje a vassoura, marca do “janismo”, como logo.
No início dos anos 1990, o ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, também se vestiu de gari e se juntou aos colegas na tradicional limpeza da avenida Marquês de Sapucaí no fim do carnaval. Foi vaiado pelos foliões.
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