O fotógrafo Nego Miranda diz que uma "nuvem paira sobre o Paraná". Ele não se refere às formações de água condensada que traz as chuvas, mas à identidade cultural desbotada do estado. A memória daquilo que de único existe por essas bandas estaria se perdendo. Por isso, Miranda resolveu pesquisar as construções de madeira espalhadas pelo Paraná. Ele diz que as casas, as igrejas e até os estádios de futebol feitos com a matéria-prima têm caracteríticas únicas, que denotam a identidade do estado. Tudo foi registrado com fotografias que agora compõem o livro Paraná de Madeira. O volume, que conta com textos da pesquisadora Cristina Wolff de Carvalho, será lançado hoje, às 19 horas, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Um exposição homônima, com 40 reproduções fotográficas, também será inaugurada.

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O projeto foi idealizado há quatro anos por Miranda, que havia acabado de realizar um trabalho similar a respeito da exploração de erva-mate. Ao estudar a arquitetura local de madeira, o fotógrafo descobriu que as construções eram mais abundantes e bem preservadas no interior do estado. "Isso acontece porque lá as pessoas moram e gostam das suas casas. São lares que eram de seus avôs, seus pais, e, por isso, eles continuam morando e preservando. Aqui, em Curitiba, as pessoas vão demolindo e fazendo alvernaria. Elas têm um pouco de vergonha, às vezes, por morar em casa de madeira, quando, na verdade, essas são as mais bonitas", afirma o fotógrafo. O projeto, inicialmente voltado a Curitiba, passou a englobar todo o estado. Foi aprovado pela Lei Rouanet de Incentivo à Cultura para receber verbas da Petrobrás, há cerca de um ano e meio.

Miranda viajou por dez meses pelo Paraná, enquanto Maria Cristina Wolff de Carvalho, professora da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), se responsabilizou pela pesquisa e pelo texto. Foram documentadas centenas de construções de madeira, mostradas em aproximadamente 230 fotografias nas 207 páginas do livro que será lançado hoje.

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Identidade

"Essas construções são a cara do nosso estado. É uma arquitetura que só existe no sul do Paraná", afirma Miranda. Inicialmente, as casas eram as moradas dos imigrantes que buscavam reproduzir no Brasil a cultura que haviam deixado em seus países de origem. Com o passar do tempo, surgiram adequações às novas necessidades e ao clima. "Eles foram adaptando até surgir um estilo que, até a terceira década do século 20, já era uma arquitetura local, que não existia em outro lugar", afirma Miranda.

* Serviço: Lançamento do livro e exposição Paraná de Madeira, de Nego Miranda e Maria Cristina Wolff de Carvalho. Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999 – Centro Cívico), (41) 3350-4400. Hoje, às 19 horas. Entrada franca.