Teatro
Veja a programação deste e outros espetáculos no Guia Gazeta do Povo.
É cada vez mais rara a oportunidade de assistir a espetáculos inspirados no teatro grego em Curitiba, já que são poucas as montagens que optam por essa vertente. De amanhã até sábado, no Teatro José Maria Santos, Ifigênia suprirá, brevemente, a demanda por releituras dos primeiros clássicos da dramaturgia (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo). A montagem, da paulistana Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, mantém o tom trágico e a fábula/mito de Ifigênia em Áulis, de Eurípedes, em que o comandante grego Agamêmnon estaciona suas tropas na praia, prestes a atacar Tróia pelo mar, mas é impedido pela falta de ventos. Para colocar suas velas em movimento, a deusa Ártemis pede o sacrifício da filha de Agamêmnon, Ifigênia. Ele concorda, e, quando a mulher Clitemnestra e o apaixonado Aquiles intervêm para liberá-la, a garota se entrega voluntariamente, pelo bem das tropas, do amado e da família.
Linguagem
Se a história pode ser reconhecida, o formato em que ela é contada inova ao permitir o improviso dos atores, que assumem diferentes personagens ao longo da peça.
A proposta segue a técnica do campo de visão, desenvolvida pelo diretor Marcelo Lazzaratto, pela qual cada ator só pode se mover quando outro ator ou ação dramática entra em seu campo de visão.
Por envolver ações individuais meticulosamente inseridas num coletivo, a técnica encontrou ressonância na tragédia da jovem que se entrega pelos outros.
"O conteúdo de Ifigência potencializou nossa linguagem", avalia o diretor, que conversou com a reportagem da Gazeta do Povo. De acordo com ele, o público reage bem a essa forma de encenação. "Quando a pessoa detecta o improviso, ela aproveita o jogo. Quando não detecta, acompanha a história. A fábula continua lá," diz Lazzaratto.
Mas ele ressalta que o foco da montagem não está nos personagens, e sim na linguagem adotada.
Outros destaques prometem ser o cenário e o figurino. Vestidos de forma homogênea, nove atores e atrizes assumem papéis masculinos e femininos em revezamento, com indumentárias que podem assumir o papel de saias ou de vestes de guerra.
Um objeto de cena, que lembra sombrinhas orientais, foi o elemento detonador da pesquisa visual do espetáculo, que tem oito cenas no total.
Uma surpresa é a iluminação improvisada, que, assim como a trilha sonora tocada ao vivo por dois músicos, acompanha as variações possíveis a cada sessão.
Oficina
Quem tiver interesse em conhecer e experimentar a técnica do campo de visão desenvolvida pela companhia de São Paulo poderá participar hoje, das 19 às 22 horas, de uma oficina voltada a atores, bailarinos e performers maiores de 16 anos. A inscrição é gratuita e deve ser enviada para o e-mail elevadorinscricao@gmail.com. A aula ocorrerá no próprio teatro.
O espetáculo foi indicado ao Prêmio Shell de 2012 pela iluminação e ao Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro, também de 2012, nas categorias dramaturgia (Cássio Pires), elenco e trabalho apresentado em sala convencional.