São Paulo – Estreando no prolífero calendário nacional de festivais de rock no último fim de semana, o Claro Que É Rock não fez feio. A edição paulista, realizada na Chácara do Jockey, em São Paulo, provou que o festival veio mesmo para ficar. De acordo com a organização do evento, cerca de 25 mil pessoas revezaram-se entre os dois palcos montados um de frente para o outro. Assim que uma apresentação terminava no Palco A, outro show tinha início no Palco B, maratona que ultrapassou as 12 horas de música.

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Poucas pessoas assistiram às apresentações dos oito grupos independentes nacionais, que concorriam à gravação de um CD, dois videoclipes e uma van personalizada para futuras turnês. A vencedora, anunciada somente após o último show da noite (aproximadamente às 3h30), foi a gaúcha Cartolas.

Enquanto grande parte do público enfrentava o demorado congestionamento da Av. Francisco Morato – a chácara, apesar de ser um bom local para shows, é de acesso complicado, – os brazucas Cachorro Grande e Nação Zumbi (já com o show do novo álbum) deram conta de aquecer os que haviam iniciado a maratona roqueira, já que o clima paulista daquela noite estava peculiarmente "curitibano".

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A primeira atração internacional a subir ao palco foram os garotos do Good Charlotte, que deixaram milhares de fãs – garotada com lápis preto devidamente traçado nos olhos – aos berros.

Direto de Oklahoma, o Flaming Lips foi responsável por plantar sorrisos até nos rostos dos roqueiros mais posudos, com uma apresentação cheia de efeitos especiais. Logo na primeira canção, a belíssima "Race for Prize", o carismático vocalista Wayne Coyne passeou pela platéia envolto por uma bolha transparente, sendo jogado pela multidão. Enquanto isso, fãs escolhidos na fila mais próxima ao palco foram convidados a subir e a passar o resto do show dançando, devidamente trajados como bichinhos de pelúcia. No repertório, a banda, além de incluir as mais recentes "Fight Test" e "Yoshimi Battles the Pink Robots", puxou o coro da multidão com as covers "Bohemian Rhapsody" (Queen) e "War Pigs" (Black Sabbath), – esta última, especialmente dedicada à "estúpida administração do estúpido presidente George W. Bush".

O local já quase atingia sua lotação quando o loiríssimo Iggy Pop surgiu no palco se sacudindo freneticamente. Acompanhado pela formação original dos Stooges – o baixista Dave Alexander, morto em 1975, foi substituído com maestria por Mike Watt (Minutemen), – o performático Iggy interpretou os maiores clássicos da banda, como "1969", "I Wanna Be Your Dog", "TV Eye", "Dirt" e "No Fun", enquanto aprontava suas já conhecidas estripulias. De calça justíssima, com o "cofrinho" devidamente à mostra, o vovô do rock se jogou na platéia, circulou pelo palco todo com suas coreografias espasmódicas e ainda liberou o palco para uma dúzia de fãs, para a loucura dos sisudos seguranças. Uma verdadeira aula de atitude roqueira – que poderia bem ter sido assistida pelos "aluninhos" do Good Charlotte.

Com gostinho de quero mais, os fãs do Sonic Youth aguardavam que a banda repetisse a generosa dose de hits que integrou a passagem da banda pelo Brasil há cinco anos, ocasião em que se apresentou no extinto Free Jazz Festival. Porém, os nova-iorquinos centraram o repertório no último CD, Sonic Nurse, tocando ótimas faixas, como "Pattern Recognition".

Fechando a noite, o paredão sonoro trazido por Trent Reznor em um avião exclusivo surpreendeu até aos que não estavam lá para conferir o Nine Inch Nails. Efeitos luminosos por todo o palco e a atmosfera sombria das canções fez do show um espetáculo à parte. O set list não poderia ter sido mais equilibrado, composto por canções fresquinhas como "With Teeth" e a dançante "Only", além das clássicas "Closer", "Wish" e a emocionante "Hurt", imortalizada pela voz de Johnny Cash.

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A repórter viajou a convite do evento.