Iggy Pop não frustrou quem salivava há meses antecipando o momento histórico e histérico de vê-lo ao lado dos Stooges, sobreviventes no palco do Claro Que é Rock. Como houve um atraso generalizado, ele só pisou no palco duas horas e meia além do previsto, depois de a banda fazer uma discreta passagem de som depois que um locutor anunciou que ia começar.
Aos 58 anos, corpo esguio, apenas de calça comprida bem apertada (disseram que ele comprou na Gang), cabelos longos esvoaçantes, Iggy entrou pulando todo agitado e assim ficou durante os 60 minutos do show que teve 13 músicas, 11 delas dos dois primeiros discos de sua seminal banda protopunk, "The Stooges" (1969) e "Fun house" (1970).
Ele entrou de pé embaixo com "Loose", fazendo a festa dos fotógrafos, que só podem registrar duas músicas, descendo para as duas passarelas abaixo do palco e tocando a maior zona no meio de máquinas e flashes. Chegou na ponta extrema e ficou no escuro, não havia canhão. O som não estava ajudando também, faltava volume para transmitir a pulsação atômica dos punks sessentões Ron (guitarra) e Scott Asheton (bateria) e Mike Watt (baixo).
Iggy num tava nem aí. Com um microfone com fio, que levou seu veterano roadie à loucura para desembaraçar o show inteiro, ele estava em todos os lugares do palco ao mesmo tempo, subia, descia, caía no chão aos estertores, batendo com o microfone no chão causando estrondos e logo na segunda música, "Down on the street", subiu no amplificador de baixo, deitando-se languidamente e depois sentando-se nele balançando as pernas por alguns segundos na maior alegria.
Para logo em seguida embarcar na máquina do tempo com "1969", ano de sua estréia em disco, cantando "agora vou fazer 22 anos". UM ano de utopias, auge da era hippie, ano do festival de Woodstock, mas ele não estava nem aí.
'Ponham a bundinha aqui em cima', diz Iggy
A terceira foi o hino "I wanna be your dog", agitada e insana, quando aconteceu o que todos esperavam, ele desceu para a passarela mais baixa e mergulhou na platéia, sumindo na confusão de corpos e mãos erguidas até ressurgir quase inteiro com a calça no meio da bunda - aquilo não era nem pagar cofrinho, era pagar caixa forte - rebolando indiferente à exposição de seu traseiro e quase da região pubiana.
"Nossa sociedade é dividida entre pessoas que estão em cima e pessoas que estão no fundo. Os que estão no fundo são sujeira", berra ele para introduzir "Dirt", mais lenta com uma levada setentista. Ao estilo daqueles anos, ele promoveu um verdadeiro happening nas músicas "Real cool time" e "No fun", incitando o povo da platéia a subir no palco, "ponham a bundinha aqui em cima", "subam nessa p*". Convite feito, convite aceito, subiram até músicos da banda Cachorro Grande, tudo garotada com idade para ser filho dele, fazendo a maior festa enquanto ele berrava "não tem graça ficar sozinho". Teve gente se ajoelhando diante dos músicos e dele, gente tirando foto, agarrando, tirando sarro, tudo que se puder imaginar por quase dez minutos.
Depois de recobrar o comando do palco, ele atacou de 1970, passando por "Mind room" - "fiz uma viagem para o quarto da mente para ver o que podia achar" - e tome "Fun house" com longos improvisos, vocais blues em alguns momentos e depois histeria pura, com latidos lancinantes que levaram a banda a partir para a barulheira, com a adição do sax de Steve McKay.
"Esta canção é sobre a merda em que o rock se transformou", berrou ele, atacando de "Rock star", com os versos "sou uma estrela do rock morta, tenho medo de fracassar". Para encerrar nocivamente "I wanna be your dog", com mais pulos e estertores.
E foi só, aliás só não, foi uma hora que valeu por três.
Iggy está muito vivo e com tudo em cima.
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