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Alan Wolfe: pensamento liberal ainda é uma arma poderosa para a condução da política | Divulgação
Alan Wolfe: pensamento liberal ainda é uma arma poderosa para a condução da política| Foto: Divulgação

O cientista político Alan Wolfe, professor do Boston College, lançou recentemente o livro The Future of Liberalism (O Futuro do Liberalismo, ainda sem tradução para o português), no qual argumenta que o pensamento liberal ainda é uma ideia poderosa para a condução da política. Em entrevista à Gazeta do Povo, Wolfe explica que refuta a divisão entre liberalismo clássico e moderno. A tradição de três séculos, para ele, precisa ser entendida em seu conjunto. O professor norte-americano também avalia que a administração do presidente Barack Obama tem condições de participar da retomada do liberalismo como a melhor alternativa para os Estados Unidos após o fracasso do conservadorismo de George W. Bush.

O liberalismo ainda tem apelo para atrair eleitores nos Estados Unidos?

Hoje o liberalismo está na melhor posição para atrair os eleitores desde os anos 60. Em parte por causa da crise econômica e em parte porque os conservadores, no governo Goerge W. Bush, falharam em quase tudo que tentaram.

Liberais e conservadores encontram pontos comuns no liberalismo clássico ou eles se afastaram demais nos anos Bush?

No meu livro eu rejeito a ideia de que exista o liberalismo clássico em contraste com o moderno. O termo tem o mesmo significado no século 21 que ele tinha no século 18. A ideia de liberdade era algo que os conservadores podiam achar atraente em teoria. Mas, pelo menos nos Estados Unidos, eles estavam muito mais interessados em outros objetivos do que em promover as ideias de autonomia e igualdade, que são fundamentais na tradição liberal. Meu argumento é que o liberalismo é definido pela capacidade das pessoas controlarem suas vidas o máximo possível. E igualdade não está em oposição à liberdade. As pessoas geralmente falam que há um conflito entre liberdade e igualdade, enquanto meu argumento é que você não pode ter um sem o outro. Os conservadores dizem que são em favor da liberdade, mas não em favor da igualdade.

O senhor acha que o presidente Barack Obama representa esse ideal de liberdade com igualdade?

Acho que sim, ele está fortemente comprometido com essas ideias. Ele não se descreve como um liberal com muita frequência, o que também não é necessário. Seu programa fala por si.

O presidente Obama caminha para montar seu modelo próprio de política liberal?

Todo político tem o potencial de moldar o pensamento liberal. Obama foi moldado pelo liberalismo ao mesmo tempo em que cria sua própria forma de ação. Um de meus argumentos é que o pensamento liberal não é fixo. Ele tem um lado pragmático, que se ajusta de acordo com as experiências.

E como isso se transforma em políticas?

Nós claramente vamos mudar para um sistema no qual, por exemplo, as pessoas têm mais acesso ao seguro de saúde, que é um ideal básico do liberalismo. Uma sociedade na qual as pessoas são privadas da chance de se curarem de uma doença, só porque não têm recursos, é fundamentalmente desigual. E acho que essa administração vai ser mais liberal nos seus procedimentos legais, com a restauração da ideia do processo legal, repudiando as políticas de tortura e detenção da era Bush.

E quanto ao lado econômico dessa administração?

John Maynard Keynes, um dos grandes liberais da história, provou que a sociedade tem o controle da economia, ao invés de ser puramente vitimizada pelos mercados. Keynes disse que não deveríamos tratar a economia como a natureza, como uma força incontrolável. Temos a capacidade de controlá-la e é isso que a administração Obama quer, tentando evitar que a crise fique pior.

Paul Krugman (economista, Nobel de economia em 2008) defende que Obama deveria aumentar a intervenção do Estado.

Eu concordo com Krugman, como um liberal, que isso é o que Obama deveria fazer. Mas Krugman é um economista e eu um cientista político. E eu reconheço que, politicamente, Obama não tem condições de fazer isso. É uma questão entre o que podemos e o que deveríamos fazer.

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