Ilustradores deixam mouse de lado

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Fazer com que ilustradores larguem o computador por algumas horas e se dediquem a um trabalho manual coletivo é a proposta da revista eletrônica IdeaFixa, de Curitiba, para o projeto Cadernos de Viagem. São quatro cadernos montados em parceria com a encadernadora Caderno Listrado e enviados para 30 artistas de todo o Brasil, entre designers, fotógrafos e ilustradores selecionados por seus portfólios.

Cada um fica com o sketchbook durante sete dias, ilustra quatro páginas com a técnica que quiser (contanto que seja manual e siga o tema "viagem") e o envia para outra pessoa da lista.

Depois de cerca de cem dias, quando a ronda dos participantes estiver completa, a ideia é fazer uma exposição, selecionar os melhores trabalhos para um livro e leiloar os cadernos.

"O dinheiro será destinado a uma instituição de caridade focada no ensino da arte", explica a editora das obras, Janara Lopes.

Em Curitiba, o caderno já passou por cinco ilustradores: Guilherme Caldas, da Candyland Comics, Jorge Galvão e Cristina Pagnoncelli, ambos da agência de comunicação OpusMúltipla, Deivid Heal e Pierre Lapalu. Carolina Garafoni receberia o livro entre ontem e hoje.

"Gosto muito de trabalhos manuais, de pintura, mas nem sempre se consegue fazer isso no dia-a-dia, tendo que resolver jobs rápidos", conta Cristina, que usou tintas e colagem em seu trabalho, inspirado na rua Caminito, cartão-postal do tango de Buenos Aires. "Visitei a cidade recentemente em minha primeira viagem internacional. Foi a primeira coisa em que pensei quando vi o projeto", explica.

Já o trabalho do colega Jorge Galvão tomou a palavra "viagem" em outro significado: os efeitos do uso de drogas.

"Na verdade, achei genial um livro que ganhei sobre sífilis bucal, com ilustrações de feridas feitas sobre fotos. Decidi usar aquilo e esqueci do tema... Daí me lembraram e adaptei os personagens para uma bad trip", conta, referindo-se aos efeitos desagradáveis posteriores ao uso de psicotrópicos.

O traço de Galvão, proveniente de sua experiência com o grafite, contribuiu para tornar o caderno de Curitiba bastante diversificado, como é o objetivo do projeto.

"As obras estão num nível que me deixa até meio assustada. Tão bom que penso ‘como vou fazer algo melhor que isso?’", diz Carolina Garofani, ilustradora que ainda irá receber o caderno.

Os trabalhos já feitos em todo o Brasil podem ser vistos no site www.ideafixa.com, digitando "cadernos" na busca.