Laurindo Almeida escreveu a trilha sonora de um curta metragem em animação premiado com o Oscar em 1968| Foto: Divulgação

O musicólogo Alexandre Franchischini não poderia ter sido mais criativo ao intitular seu livro, lançado recentemente pela Editora Cultura Acadêmica, de Dos Trilhos em Miracatu às Trilhas em Hollywood. Isso porque a obra traz a história do compositor, arranjador, violonista e guitarrista Laurindo José de Araújo Almeida Nóbrega Neto ou, simplesmente, Laurindo Almeida, como ficou mundialmente conhecido.

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Trata-se de um dos grandes compositores de trilha sonora dos filmes hollywoodianos das décadas de 60 e 70, um brasileiro nascido na pequena cidade de Miracatu, no interior de São Paulo. Bacharel em Música e mestre em Musicologia e Etnomusicologia, Franchischini encontrou na vida "esquecida" de Laurindo Almeida um motivo de pesquisa para a sua tese, tendo em vista que pouquíssimos, aqui no Brasil, reconheciam a importância da obra deste mestre da música.

O interesse por Laurindo nasceu de uma curiosidade. Durante suas pesquisas de mestrado, enquanto folheava despretensiosamente o livro O Jazz do Rag ao Rock, do crítico musical Joaquim Ernest Berendt, no capítulo destinado aos instrumentos de jazz, Alexandre se deparou com a seguinte afirmação: "Um violonista que ocupa uma posição toda especial no jazz é o brasileiro Laurindo Almeida, um músico do nível dos grandes concertistas desse instrumento".

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O pesquisar ficou extasiado com a informação, porque admite que, até aquele momento, também não conhecia a obra de Laurindo. "Descobri que ele não era desconhecido apenas pela sociedade brasileira, mas também por musicólogos, arranjadores e instrumentistas, pessoas ligadas ao universo musical mesmo. Foi aí que decidi dedicar todo o meu tempo para conhecer a fundo o universo de Almeida", afirma.

O trabalho foi intenso, Franchischini passou três anos garimpando textos, fotos, discos e partituras do compositor. "A minha maior dificuldade foi encontrar fontes. Por ser pouco conhecido aqui no Brasil, foi difícil alavancar uma pesquisa com livros teóricos que falassem especificamente dele", explica. Até que o pesquisador assistiu ao documentário Laurindo Almeida: Muito Prazer, produzido e dirigido por Leonardo Dourado. "Vale ressaltar que esse vídeo se tornou fundamental para a obtenção de dados biográficos", comenta. Além disso, o autor teve a sorte de conhecer o violonista e colecionador Ranoé Simões, morador do bairro Bixiga, região central da capital paulista, que foi amigo de Laurindo e tinha em seu poder um acervo significativo de discos e partituras do mestre. "Frequentei por meses a casa do Ranoé, peça chave do meu trabalho", diz.

A verdade é que ao longo do processo Francischini pode constatar que Laurindo Almeida, um dos violonistas mais influentes do século 20, ainda não ocupava o seu devido lugar na historiografia da música brasileira. Segundo ele, um dos motivos para esse não reconhecimento poderia ter sido o fato de Laurindo não ser um músico purista, " ele assumia uma postura de músico de fronteira, costumava misturar muitos gêneros musicais, o que não o legitimava como um ‘criador’ de músicas genuinamente brasileiras", diz.

Precursor da Bossa Nova

Existe uma polêmica sobre o fato de Laurindo Almeida ser ou não o precursor da Bossa Nova. Para alguns autores, ele era sim um dos iniciadores desse gênero musical tão reconhecido; para outros, ele foi apenas um difusor da música brasileira fora do país. Dúvida que é posta sobre várias vertentes no livro de Franchischini.

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Logo nas primeiras páginas da obra, o leitor embarca em uma narrativa pela trajetória do músico, desde o seu nascimento e infância, ao lado da via férrea, na pequena Miracatu, no litoral paulista, passando pelo Rio de Janeiro das décadas de 30 e 40, no auge da Era do Rádio, quando trabalhou ao lado de artistas como Carmen Miranda, Pixinguinha, Garoto, Radamés Gnattali e tantos outros, até sua emigração para os Estados Unidos, onde se tornou um dos músicos brasileiros de maior renome, atuando em aproximadamente 800 trilhas sonoras para filmes de Hollywood.

Nessa época também integrou grupos da maior importância na história do jazz norte-americano, como a orquestra de Stan Kenton e o The Modern Jazz Quartet. Ainda em relação ao cinema, o mestre a escreveu a trilha do curta de animação The Magic Pear Tree (1968), vencedor do Oscar.

Premiadíssimo no mercado cinematográfico Laurindo também foi agraciado, entre 16 indicações, com cinco Grammys. O museólogo e historiador Paulo de Castro Laragnoit, que durante anos correspondeu-se com Edgar de Almeida, irmão mais velho de Laurindo, procurou manter a história do compositor viva, pelo menos em Miracatu, sua terra natal.

Depois desse mergulho musical permeado por descobertas sobre Laurindo Almeida, Francischini pôde finalmente escrever a trajetória desse músico que tanto tem a acrescentar para a riqueza, não só da música brasileira, como mundial. "O que pretendo de fato é despertar o interesse nos leitores em descobrir realmente quem foi Laurindo Almeida e qual a sua importância como mais um mestre na linha de estudos musicais", conclui.

Serviço: Dos Trilhos em Miracatu às Trilhas em Hollywood, de Alexandre Franchischini, Editora Cultura Acadêmica. Disponível para Download mediante cadastro no site: www.culturaacademica.com.br.

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