O poeta russo Vladimir Mayakovsky afirmou que não há arte revolucionária sem forma revolucionária. A frase deve ter sido lembrada por um grupo de artistas que, na década de 50, fundou o movimento Ruptura, marco inicial do concretismo no Brasil.

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Entre estes "rebeldes" que eliminariam a diferença entre forma e conteúdo, estava o paulista Geraldo de Barros, fo-tógrafo, gravador, pintor, designer gráfico e industrial.

Na década de 40, o artista, ainda jovem, aprendeu a pintar nos ateliês de Clóvis Graciano e Takaoka. Seu estilo ainda era expressionista quando, a convite de um amigo, passou a fotografar os times de futebol amador que jogavam na periferia paulistana. Assim, iniciou-se na técnica fotográfica, mas apenas o suficiente para não se deixar corromper pela tradição fotográfica de representação naturalista. Para Barros, o culto à perfeição técnica limitava os resultados, a imaginação e a criatividade.

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Com sua Rolleiflex 1939, ele não demorou a produzir trabalhos que romperiam com a reprodução meramente pictórica da realidade. Suas idéias entrariam em choque com o comportamento convencional dos membros do Foto Cine Clube Bandeirantes, ao qual filiou-se em 1949. Mas, a despeito de seus colegas, que recusavam sistematicamente seus trabalhos nas exposições organizadas pelo clube, o artista fez juz ao título de iconoclasta que receberia mais tarde, inaugurando a fotografia moderna no Brasil.

As imagens que Geraldo de Barros produziu nestes primeiros anos de carreira artística deram origem à série Fotoformas, que expôs em 1950, no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Graças ao sucesso da mostra, recebe um prêmio para estudar fotografia em Paris. No entanto, já satisfeito com as experiências fotográficas, Geraldo prefere dedicar-se à gravura. Somente em 1988, já no final da vida, retoma a fotografia, produzindo uma série de montagens e colagens a que denominou Sobras.

O material fotográfico produzido pelo artista acaba de ser reunido na caixa Geraldo de Barros – Sobras + Fotoformas (Cosac Naify, R$140). A publicação reúne dois livros com as imagens produzidas pelo artista e textos bilíngües (em inglês e português) organizados por Rubens Fernandes Junior.

Fotoformas é uma versão fac-similar do catálogo da exposição Geraldo de Barros, Peintre et Photographe, realizada em 1993, no Musée de l’Elysée, em Lausanne, na França. Já Sobras reúne recortes de pequenos negativos que o artista selecionou entre suas fotografias de família e de viagens. Sobre este material, ele afirmou: "Se só guardamos lembranças dos momentos tristes ou alegres: enlouquecemos. Felizmente existem os restos".

A caixa inclui uma cronologia da trajetória do artista, escrita por Michel Favre; o poema "Geraldo de Barros", do concretista Augusto de Campos; e textos de fortuna crítica publicados por ocasião das exposições do artista, como, por exemplo, os de Pietro Maria Bardi, idealizador do Masp, e dos críticos Radhá Abramo, Paulo Herkenhoff e Nelson Aguilar.

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Todos eles alertam o público para a inovação da fotografia do artista, que procura "revelar o invisível à vista", desconstruir a realidade e abstrair formas, através de um jogo de sombra e luz, interessando-se unicamente pelas fissuras, asperezas, grafites. É como escreveu Bardi, no catálogo da exposição no Masp: "Geraldo vê, em certos aspectos ou elementos do real, especialmente nos detalhes geralmente escondidos, sinais abstratos fantasiosos e olímpicos: linhas que gosta de entrelaçar com outras linhas numa alquimia de combinações mais ou menos imprevistas e às vezes ocasionaism que acabam sempre compondo harmonias formais agradáveis".