Quando a Sala Paul Garfunkel da Biblioteca Pública do Paraná lotou, no dia 11 de março de 1988, um sorriso apareceu no rosto de Jorge de Souza. Enfrentando a concorrência da Globo, que naquele dia exibia Star Wars O Retorno de Jedi, e do SBT, que estreava o programa humorístico de Jô Soares, a sessão de Flash Gordon no Planeta Mongo organizada por Souza havia sido um sucesso. Com seus irmãos Erasmo e Joaquim, por mais de 30 anos arrendatários do famoso Cine Morgenau, ele havia fundado o cineclube Aníbal Requião no dia 3 de setembro de 1983, em homenagem ao pioneiro cineasta paranaense. É provavelmente o mais antigo cineclube ainda em atividade no Paraná, dedicado quase exclusivamente a velhos westerns e filmes B. Mas não é o único. Nos últimos três meses, Curitiba ganhou mais duas iniciativas do gênero, que despontam os interesses de uma nova geração de cinéfilos.
Jean Michel Kuss irradiou uma alegria parecida com a de Jorge de Souza quando, há duas semanas, no dia 22 de julho, participou da inauguração do Cineclube Kino-Glaz. Foi necessário derrotar a seleção brasileira que naquele dia jogava contra o Japão pela Copa do Mundo. Enquanto os jogadores marcavam a agora já inútil goleada de quatro a um, Kuss, de 19 anos, estava preocupado com botões e cabos da improvisada cabine de projeção no Teatro Sesc da Esquina.
Foi preciso aprender a mexer na iluminação, na aparelhagem de som e cuidar para que o rolo de película de 35mm não se rompesse durante a sessão. Houve dúvida se o projetor, uma traquitana de dezenas de quilos, iria conseguir emitir luz forte o suficiente para atravessar a sala e alcançar a tela, uma grande lona de plástico.
A sessão de Filme Demência, a despeito das cervejadas que costumam acompanhar vitórias brasileiras na Copa, juntou cerca de cem cinéfilos e curiosos. O diretor Carlos Reichenbach esteve presente na ocasião e disse, logo no começo, que a atuação de um cineclube é tão importante quanto o fazer cinema. "Hoje prevalece uma relação com o cinema que visa unicamente o entretenimento. Os filmes também podem ascender a outros estágios de pensamento, de reflexão e de experiência. A função de um cineclube é restituir essa relação e não elitizar. Trazer filmes interessantes e de graça", diz Kuss. Hoje é a última sessão do Ciclo Carlos Reichenbach co-realizado em parceria entre o Sesc da Esquina e o Cineclube Kino-Glaz, com projeção de Dois Córregos, às 19 horas. Nas futuras sessões, a intenção do grupo é trabalhar com produção curta-metragista brasileira.
Subterrâneos
Kuss não é o único a tentar dar corpo ao seu idealismo cinéfilo. Às sextas-feiras, desde o início de abril, o mestrando do curso de Ciências Sociais da UFPR Paulo Scarpa organiza as exibições do Cineclube Subterrâneos. Em 2005, o curitibano participou da fundação do grupo sediado em Belo Horizonte. A proposta é simples: passar filmes jamais lançados no Brasil, tanto no circuito de cinemas quanto no mercado de vídeo. "Há muita gente que gosta de filmes e, por outro lado, muitos filmes dos quais a gente apenas ouve falar, produções importantes poucas vezes vistas, ou porque não foram lançadas, ou porque não têm legendas em português", lembra.
A programação conta com pérolas de cineastas celebrados, como Faces, de John Cassavetes; Eraserhead, de David Lynch; e A Chinesa, de Jean-Luc Godard. Sem falar de títulos exploitation (Pink Flamingos, de John Waters) ou raridades completamente inéditas, como Danação, do húngaro Bela Tarr. As sessões regulares foram interrompidas em função das férias escolares de julho, mas voltam em agosto com agenda também voltada a curtas, incluindo filmes de Guy Maddin, Tessa Hughes Freeland, Richard Kern e Kenneth Anger.
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