O documentário The Sons of Cuba – Buena Vista Next Generation tem tantos problemas que fica difícil apontá-los todos.

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Mas não custa tentar.

Pensado como uma continuação para Buena Vista Social Club, de Wim Wenders, o lançamento vem na forma de DVD e CD disposto a apresentar os novos talentos da música cubana.

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Dá para dizer, de início, que o CD é melhor que o DVD.

Agora, o alemão Wenders apenas produz. Quem dirige é o argentino German Kral, dono de uma filmografia pequena e desconhecida – boa parte dela criada na Alemanha.

A primeira coisa que chama a atenção é a ausência de Ry Cooder, guitarrista e produtor que "descobriu" a velha guarda cubana e produziu discos impecáveis, alçando ao estrelado nomes como Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo e Rubén González. Processado pelo governo americano por estabelecer relações comerciais com a ilha de Fidel – furando o embargo econômico dos EUA –, foi multado em alguns milhares de dólares.

Fica claro que o ouvido para a música em Buena Vista era de Cooder. Wenders tinha os olhos. Os dois funcionavam bem juntos. Sem Cooder, o alemão perdeu a audição. Sobraria a visão, mas ela não aparece em The Sons of Cuba.

É explícito que German Kral tenta copiar o filme anterior, chegando a um resultado risível. Um arremedo cinematográfico. Enquanto Wenders conseguiu criar um clima lírico, arrancando dos personagens depoimentos emocionados e performances inspiradas, Kral opta por fazer um pequeno teatro na tentativa de criar uma "história".

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O maestro Pío Leiva (1917 – 2006), um dos velhões do Buena Vista, morto em março passado, tinha 85 anos quando participou do documentário. No "enredo", ele encontra o taxista Barbaro Marín, que o convence a montar uma banda com cantores cubanos da nova geração.

Barbarito o leva por várias casas de show de Havana nas quais conhece a bela Osdalgia, a rapper Telmary (ou rapera, em espanhol) e o cantor El Nene (dos chapéus à voz, um herdeiro natural de Ibrahim Ferrer).

O problema é que essa encenação do "vamos montar uma banda" é muito mal-feita e resulta em algo extremamente falso. Uma telenovela de quinta categoria. Quando surgem dois empresários japoneses na história, o absurdo e o constrangimento são incontornáveis.

Os músicos cubanos terminam o primeiro filme com um show no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Em The Sons of Cuba, conhecido também pelo título Música Cubana, a banda do maestro Leiva e do taxista Barbarito viaja a Tóquio para um show em um lugar sem-nome. Parece uma farsa.

A apresentação para os japoneses é forçada, oca e desnecessária, enquanto o show no Carnegie Hall foi simbólico – cubanos cantando em uma das casas de espetáculo mais importantes do mundo, na cidade-coração de seu algoz, os EUA.

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Piloto de um projeto mercenário, Kral consegue falhar em vários setores e de modo impressionante. Até a escolha de certos personagens foi infeliz. Em meio a músicos de qualidade, aparece uma barbaridade chamada Chiki Chaka Girls, um tipo de É o Tchan local.

O que poderia ser, a um só tempo, o tributo final a Pío Leiva e o reconhecimento da cena musical cubana, não passa de um embuste. Wim Wenders devia se envergonhar. G